Ensaio geral do segundo mandato
Por Reinaldo Azevedo
Um governo determina a qualidade dos seus radicais ao escolher os seus moderados. Explico-me: os moderados, do ponto de vista lulo-petista, são as madres Teresas do MST, o movimento liderado pelo sr. João Pedro Stedile, que nem existência legal tem. Os radicais passam a ser, então, os democratas do MLST, chefiados, não por acaso, por um sujeito que pertence à direção nacional do PT: Bruno Maranhão, um jovem radical de 66 anos... O partido, como sempre, está doido para jogar a culpa nas costas de alguém. Desta vez, da extrema esquerda. Tenta dizer que ele, de fato, é ligado ao pessoal do PSOL. Mentira! Maranhão integra o comando da campanha para a reeleição de Lula. Já dormiu na Granja do Torto, sob o mesmo teto do primeiro casal. É, pois, um homem da turma de Lula.
Maranhão, sozinho, mereceria um tratado psicanalítico. Falo dele mais adiante. O relevante nessa história toda é que este senhor é o símbolo do compromisso de seu partido com a democracia representativa e com as instituições. Não é de hoje que promove arruaças e ações violentas. Ele comandou, por exemplo, a ocupação do Ministério da Fazenda ainda sob a gestão Palocci. Reitera-se: Maranhão não é um livre-atirador petista. Compõe a direção da legenda. É um velho conhecido de Lula. A sua pantomima de agora é um ensaio geral da revolução lulista que vem por aí. O Apedeuta só precisa de um segundo mandato.
Existem os culpados pela ação desta terça e existem os responsáveis. Os culpados, claro, são os atores que comandaram o assalto a um dos Poderes constituídos da República. Os responsáveis são os senhores Luiz Inácio Lula da Silva, no papel de presidente da República — o Dom Giovanni da “elite branca” (by Cláudio Lembo)... — e seu Leporello com feições de Cyrano de Bergerac, Márcio Thomaz Bastos, que o coadjuva no Ministério da Justiça: o serviçal de luxo endossa todas as malas-artes, recheadas de imposturas constitucionais, de seu chefe encantador de madames e senhores politicamente corretos.
(...) Ora, por que o MLST não iria radicalizar se vê o tratamento que é dispensado a seu companheiro “moderado”, o MST? Trata-se do movimento que destruiu o laboratório da Aracruz, que não esconde o seu intuito de ocupar terras produtivas, que pratica assalto organizado a caminhões que transportam alimentos, que invade pastos e mata animais, que destrói plantações que não considera adequadas à sua metafísica e que explicita seu caráter subversivo.
O ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário, prestigiou a inauguração de uma tal Escola Florestan Fernandes, onde se ensinam as altas virtudes políticas e morais de humanistas como Mao Tsé-tung, Lênin e Che Guevara. Em Pernambuco, o movimento já chegou a jogar cocô na caixa d’água do Incra. Mais: em um acampamento de sem-terra, no Estado, um policial foi morto depois de barbaramente torturado. A imprensa dispensou uma floresta de celulose à morte da freira Dorothy Stang. Muito justo. A do policial não mereceu um eucalipto seco. Jaime Amorim, um dos lugares-tenentes de Stedile, já atacou até um navio de bandeira liberiana que transportava milho transgênico. É um ato terrorista.
Virtudes do banditismo
Uma parcela dos políticos brasileiros está descobrindo as virtudes do banditismo. Há dias, Lula, que diz preferir escolas a presídios, como se houvesse aí uma antinomia, passou a mão na cabeça dos facínoras do PCC e, na prática, nos pediu a todos que compreendêssemos os motivos daquela brava gente. Segundo o presidente, quando esses agora bandidos tinham quatro ou cinco anos, faltou-lhes assistência. Entenderam? A culpa é da sociedade; é nossa. Os marginais estão apenas numa ação de reparação social. Alguns saem matando a esmo; outros queimam campos e derrubam cercas; outros ainda afundam crânios e matam policiais. E há, finalmente, quem decida fazer tudo isso ao mesmo tempo.
Estamos assistindo ao ensaio geral da revolução lulista. Reitero: este tal Maranhão vive abrigado no regaço do PT. Ainda que, agora, seja entregue à lei, outros o substituirão na “nobre” tarefa partidária de emparedar as instituições. É a isso que se dedica a tal Secretaria Nacional de Movimentos Populares do partido. Estranho seria se a legenda tivesse uma Secretaria Nacional de Defesa do Estado de Direito.
(...) Este é o grande sinal emitido pelo governo Lula e que será a palavra de ordem de um eventual segundo mandato: tome, na porrada, o que o faz feliz. Vejam só. No sábado passado, escrevi em O Globo: “Negros, feministas, homossexuais, índios, sem-terra, sem-teto, sem eira nem beira... Todos anseiam que a história seja vivida como culpa, e a desculpa se traduz na concessão de algum privilégio. Isso que já é uma ética coletiva supõe que todos são vítimas de alguém ou de alguma coisa. De quem ou do quê? Ninguém sabe. “Da sociedade” talvez. A hipótese é interessante. Poderíamos zerar a história, dissolver os contratos e voltar ao estado da natureza.”
E quem se importa com a democracia, o Estado de Direito? Também respondi a essa pergunta: “Os tais mercados não dão a menor bola para isso. A platéia que vi mais incomodada e, até certo ponto, indignada com a crítica severa que faço ao PT e a seu viés totalitário era composta de pessoas ligadas ao mercado financeiro. A democracia, como a defendiam os antigos liberais, lhes é irrelevante. Trata-se de dinheiro novo. Assistimos ao casamento entre os hunos e essa gente muito prática. As bodas bárbaras.”
(...) Há muitas formas de exercer a ditadura. No momento, a mais influente delas, em curso em vários países da América Latina, consiste em fazê-lo respeitando certas formalidades das instituições, mas buscando desvirtuá-las por dentro, alterando a sua natureza. O exemplo mais retumbante é Chávez, o coronel golpista, seguido de perto por Evo Morales, o índio de araque. Lula, falso operáro, é um pouco mais sutil.
Seus homens, como a gente vê, são capazes de operar de forma eficaz em três frentes: nos mercados, adoçando a boca dos novos-ricos que estão dando uma banana para a democracia; nos ditos movimentos populares, que formam tropas de assalto e estão dando uma banana para a democracia, e no Estado paralelo, aquele dos 40 quadrilheiros citados pelo procurador-geral da República, que estão dando uma banana para a democracia.
(...) Maranhão
Há uma frase de Antero de Quental, que já citei aqui, que acho boa: a tolice num velho é tão aborrecida quanto a gravidade numa criança. Não vai entre aspas porque não é literal. Ele, poeta realista, respondia ao romântico Castilho nas querelas conhecidas como “Questão Coimbrã”. Foi até injusto com o outro, mas a sacada é boa. É o que me vem à mente quando vejo este tal Bruno Maranhão. Disse que ele merece uma abordagem psicanalítica. Explico-me.
Em 1963 — ele tinha, então, 23 anos —, camponeses foram à usina Estreliana, em Pernambuco, reivindicar 13º salário. O dono da propriedade recebeu os manifestantes a bala. Cinco morreram e três ficaram gravemente feridos. Quem era ele? Pai de Maranhão. Sei lá se o jovem ficou traumatizado.
Complexo de culpa somado a um tanto de leninismo é uma mistura explosiva. O depois militante do PCBR e hoje dirigente do PT parece não ver mal nenhum em sair por aí afundando o crânio dos supostos inimigos de seus ex-amigos de classe... O movimento, imaginem vocês, é uma dissidência à esquerda do MST. Dá para imaginar as suas utopias. Um homem para quem Stedile padece dos males da moderação não veio a este mundo a passeio.
Maranhão agora está preso. Eu o condeno a receber o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que deve cantar Blowing in the Wind em sua homenagem. Sou contra qualquer forma de tortura, mas fraquejo às vezes...
Fonte: www.primeiraleitura.com.br
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