Experimente, companheiro!
Para que Vossa Excelência não seja tachado de vigarista em vez de estadista, experimente fazer algo de bom pelo Brasil.Experimente, por exemplo, cumprir aquela promessa pré-eleitoral de criar dez milhões de postos de trabalho em todo o Brasil, beneficiando, direta e indiretamente, a metade da população brasileira que, hoje, vive na penúria. Agindo assim, com certeza, Vossa Excelência vai provocar uma revolução positiva jamais vista na história socioeconômica deste país.Afinal, o povo precisa de trabalho e trabalhar, presidente, é exercer uma atividade coletiva da qual todos os homens participam ativa e passivamente.Como Vossa Excelência deve saber, por meio do trabalho, os homens se comunicam e se relacionam – com o objetivo de transformar a natureza e, ao mesmo tempo, fazer cultura. Mas o trabalho é mais do que isso. Pelo trabalho o homem se autoproduz, isto é, o homem, trabalhando, é capaz de desenvolver as suas habilidades e potencialidades; é capaz também de aperfeiçoar suas limitações, para melhor encarar os desafios do mundo à sua volta. Trabalhando, o homem passa a conhecer melhor os outros homens e a si próprio, tornando-se senhor de suas próprias forças e destino. Pelo trabalho, enfim, o homem se impõe uma disciplina, o que faz com que ele se relacione com os semelhantes e viva os afetos e efeitos desta relação, a qual acaba por se tornar histórica, já que é uma ação consciente de todos os homens. Foi o trabalho, presidente, que fez do homem um ser superior às alimárias. Vossa Excelência é a prova cabal disso. Ou seja, pelo trabalho, um simples operário conseguiu superar todos os determinismos e, numa demonstração de mobilidade social jamais vista nos mais de 500 anos da história nacional, foi escolhido presidente da República. E aqui entra outro aspecto importantíssimo da relação homem/trabalho: a liberdade. Foi graças ao trabalho que o homem conquistou a sua liberdade, já que ela não lhe é dada de graça, mas, pelo contrário, constitui o resultado da ação humana sobre si mesma e sobre o mundo, obedecendo sempre a um projeto, que por sua vez será alterado, dando início a um processo dialético e histórico da maior relevância. Experimente também, sr. presidente, oferecer uma educação de qualidade aos brasileiros, principalmente aos milhões de analfabetos que, atualmente, se encontram impossibilitados de freqüentar uma escola e, assim, ter acesso a esse bem imprescindível e insubstituível que é a educação; bem este sem o qual este país nunca deixará de ser um gigante adormecido na maca do Terceiro Mundo, com seu atraso, suas injustiças e suas desigualdades socioeconômicas perfeitamente superáveis, mas que, infelizmente, se apresentam como barreiras inexpugnáveis aos lamentos do nosso povo humilhado. O fato é que, só através de uma educação pública, universal e de qualidade, a nossa gente poderá se instrumentalizar melhor para enfrentar os desafios da miséria terceiro-mundista em que está mergulhada há séculos. Afinal, a educação é uma arma poderosa que nos faculta nos situar bem no presente, refletir criticamente sobre as heranças do passado e, de posse de todas essas experiências, batalhar por um futuro melhor e mais digno. Parodiando a máxima positivista: educação, logo previsão, logo ação. Do contrário, não podemos sequer sonhar com um bem-estar factível.Então, se Vossa Excelência pretende fazer algo útil para o povo brasileiro, chegou a hora e a vez de cumprir estas duas promessas de campanha: viabilizar trabalho e educação para todos. O desafio (sabemos) é enorme, mas sabemos também que Vossa Excelência se apresentou como uma espécie de demiurgo tupiniquim para resolvê-lo. Então, que papo é esse de vir, a esta altura dos acontecimentos, dizer que não é santo nem tampouco mágico?Ora, estamos diante de um homem ou de um sapo, de um estadista ou de um vigarista?
A. Zarfeg -
Fonte: www.claudiohumberto.com.br
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