quinta-feira, novembro 02, 2006

Tal pai, Tal filho! É tudo a mesma merda.

FAIRPLAY, PAPAI
por Glauco Fonseca
“O ser humano é o único primata capaz de matar seu filho” - Arnaldo Rascovsky, psicanalista argentino, autor do livro "El filicídio"Pelo pouco que se sabe, o filho do presidente pode até ser um cara legal. Um sujeito que optou pela profissão de biólogo, de monitor de zoológico e que reforçava o orçamento dando aulas de inglês e computação (adora videogames) não reúne, a princípio, as condições fundamentais para ser capa de Veja por favorecimentos, tráfico de influência e enriquecimento nebuloso. Fábio, que detesta, a esta altura, ser chamado de Lulinha, tentou sair da área de influência do pai. Acabou, no entanto, seduzido pela sinfonia de Tritão e é provável que não esteja muito satisfeito com isso.Há diversos casos de filhos que optam por profissões diametralmente opostas às de seus pais. Fábio, ao que parece, é um deles. Quando a pessoa opta por ser biólogo, demonstra ter preocupação com a vida, com os seres vivos em sua manifestação mais orgânica e menos política. Fosse o filho do presidente alguém interessado em política, optaria pelo Direito, pela Sociologia, pela Filosofia. O filho do presidente, hoje conhecido pejorativamente como Lulinha, deve entender tanto de lobby quanto de arquétipos gregos e dos primórdios das atribuladas relações entre pais e filhos.Lula, por sua vez, atrapalha-se quando tenta explicar tudo através de política ou de futebol. Em menos de um ano, é a segunda vez que o presidente faz menção a Ronaldinho (o "fenômeno"). Desta vez, quando tentou explicar sua visão a respeito do súbito e insólito enriquecimento de seu filho, Lula disse: "Deve haver um milhão de pais reclamando: 'por que meu filho não é o Ronaldinho?' Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho". Na primeira citação, durante a Copa, Lula disse que Ronaldinho estava gordo. Na segunda, comparou seu filho ao craque. Não bastasse a comparação amplamente equivocada (tanto para um quanto para outro), a injustiça recai novamente no colo do virtuoso Ronaldinho, um talento, cujo dinheiro que ganhou sempre foi por conta de seus próprios méritos.É permitido a todos os pais, mesmo os presidentes, pretender ter filhos bem sucedidos, em estado de prosperidade e segurança. Poucos conseguem, diante da cruel desigualdade de oportunidades neste país. A cada dia que passa, papais e mamães tem de dizer mais “não” a seus filhos. Não a escolas particulares, não a passeios e viagens, não a tênis incrementados, não a cursos, não a cinemas, não a pizzarias e restaurantes. Ser pai de classe média, hoje, no Brasil, é um aprendizado constante da arte de sofrer pela repetição do “não vai dar, meu filho”.Todo filho merece um pai que seja capaz de direcionar seus filhos para o certo, tanto quanto para longe do duvidoso. E se você, caro leitor, é pai, tente explicar o que está acontecendo de verdade. E fique atento. Se o garoto mostrar pendores para o futebol, ensine a ele o fairplay, a não trocar os pés pelas mãos e dedique a maior parte do tempo na explicação da sublime diferença entre fazer carreira jogando bola e ganhando bola
Publicado em 25/10/2006

Fonte: blog do diego

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