“Peddismo”
Fonte: blog doO “luddismo”, como se sabe, é um movimento que surgiu na Inglaterra do fim do século 18. Deriva do nome do operário Ned Ludd. Seus seguidores, os “luddites”, se insurgiam contra as alterações injetadas no mercado de trabalho pela Revolução Industrial. Invadiam fábricas e quebravam as máquinas que tornavam desnecessários os trabalhadores.
Ned Ludd foi visionário e romântico. Visionário porque anteviu um fenômeno que invadiria o futuro: a queda-de-braço entre máquina e homem. Romântico porque lutou contra o inelutável. O maquinário continuou a modernizar-se. E o homem, única peça inadaptável do processo industrial, torna-se dia-a-dia mais obsoleto.
A guerra continua. Numa ação que muitos chamam de “neo-luddismo”, sindicatos e movimentos sociais fazem o que podem para preservar empregos. Até lavouras de soja transgênica o MST já destruiu. Mas a luta é inglória. O inimigo mecaniza o campo, robotiza fábricas, informatiza tudo o que vê pela frente.
Ninguém escreveu ainda, talvez por compaixão. Mas o Partido dos Trabalhadores enfrenta nos dias que correm um drama análogo à tragédia que fomentou a revolta de Ned Ludd e dos “luddites”. Assim como os operários ingleses do século 18, o PT assiste, atônito, à “modernização” do estilo político de Lula.
Reeleito, o presidente decidiu aprofundar um movimento que iniciara no primeiro mandato. Contraditoriamente, Lula evolui rumo ao arcaísmo. Trama a instalação nos plenários da Câmara e do Senado de imensas máquinas de votos. O manuseio das engenhocas exige a troca de velhas convicções pelo “amadurecimento político”.
As máquinas de votos urdidas por Lula não requerem mão-de-obra convencional. Funcionam sob a supervisão de políticos-robôs. São os únicos capazes de deslizar sobre o chão sujo da fábrica de fisiologia sem precisar tapar o nariz ou fazer cara de nojo. O presidente encontrou no PMDB o melhor provedor de robôs. E o PT vê-se às voltas com o desemprego. Perderá ministérios e cargos de segundo escalão.
No primeiro mandato, numa tentativa de retardar a própria obsolescência, o PT saiu-se com uma técnica nova: o mensalão. Deu no que deu. Agora, Lula optou por fazer diferente. Adota como prática uma diferença que o iguala às administrações que precederam a sua –de Sarney a Fernando Henrique Cardoso. O cheiro desagradável é o mesmo. Mas o processo industrial, embora custe caro ao contribuinte, oferece menos riscos ao governo.
O pior é que o petismo não pode nem mesmo lançar de um “peddismo” salvador. Além de faltar-lhe um Ned Ludd com coragem para tanto, não há na Brasília da política fábricas a invadir. A máquina da fisiologia, por invisível, não está sujeita a depredações. Opera as engrenagens do Estado há anos, a salvo de investidas oportunistas.
josias de souza
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