domingo, novembro 05, 2006
Lula e suas velhas novidades
Revigorado pelas águas cálidas do litoral baiano, Lula retorna a Brasília neste domingo. Durante a semana, vai vestir-se de negociador, para pôr de pé as duas novidades do segundo mandato: coalizão e ministério dos sonhos. São novidades antigas. Velhas mesmo. Que o diga a história.
O papo de coalizão vem de 45. Nas pegadas da deposição de Getúlio, Dutra prevaleceu sobre Eduardo Gomes. Foi uma renhida disputa presidencial. E o eleito apressou-se em propor um “acordo interpartidário”.
No fundo, o objetivo de Dutra era encurtar o campo de Getúlio. Mas envernizou a coalizão com o lero-lero do interesse nacional. Quase todo mundo topou. Só Virgílio Melo Franco não mordeu a isca. Militara na trincheira de Eduardo Gomes. E fincou o pé na oposição a Dutra.
Feita a coalizão, cada partido beliscou o seu ministério. Ficou nisso. Posto para escanteio, Getúlio voltaria a roubar a bola no meio do gramado. Elegeu-se presidente em 50. Contra quem? Eduardo Gomes. Convidou o rival para o ministro da Aeronáutica. Mas o brigadeiro, dessa vez, refugou.
Em 88, Sarney também saiu-se com a idéia do pacto nacional. Não colou. Em 91, sentindo o chão fugir-lhe dos pés, Collor lançou a tese do acordo nacional. De novo, deu em nada. Agora, parte-se para a coalizão à Lula. Se evoluir, não vai passar de um rateio de pastas. Como na época de Dutra.
De ministérios oníricos o país também está escaldado. Getúlio anunciou o seu em 51. Chamava-o de gabinete da experiência. A oposição tremeu. Com razão. Em 30, Getúlio chegara ao poder pelas armas. Auto-intitulara-se chefe de um governo provisório. O provisório virou definitivo.
Dizia-se à época: tudo passa, só Getúlio fica. Ficou por 15 anos. Natural que o anúncio do ministério da experiência fosse recebido como prenúncio de um novo governo longevo. Não foi. A equipe experiente ruiu em 53. E Getúlio atirou contra o próprio coração no ano seguinte.
Em 90, ao nomear o seu ministério, Collor disse que a equipe o acompanharia até o fim do mandato. Nem o presidente durou até o fim. Que dirá os ministros. Houve casos grotescos. O chanceler Francisco Rezek soube em Nova York que sua cabeça fora à bandeja. Constrangedor. Mas não inédito.
Ernesto Simões Filho, um dos experientes de Getúlio, estava em Florença quando lhe chegou a informação de que fora demitido da pasta da Educação. Semelhante falta de educação só se repetiria sob Lula. De novo, o Ministério da Educação, que Cristovam Buarque também perdeu pelo telefone.
Com a caneta recarregada pela tinta fresca das urnas, Lula acena com um ministério digno do “respeito da sociedade.” Se fosse vivo, Otto Lara Resende olharia de esguelha para a promessa. Em 46, repórter iniciante, Otto entrevistou Getúlio, àquela altura já ex-ditador. Foi para a entrevista, segundo contou em “Bom dia para nascer” (Cia. das Letras), armado de “juvenil petulância”.
Em dado instante, Getúlio levou a mão ao ombro do entrevistador. E disse: “Tu ainda és muito jovem para saberes que um ditador não pode tudo.” Presidentes eleitos tampouco podem muito. Lula já sabe disso. Se não sabe, logo cairá em si. Basta que lhe cheguem aos ouvidos as primeiras exigências do PMDB, esteio da novíssima coalizão.
Fonte:josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
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