01/11/2006
O desgaste do poder
O PT perdeu no segundo turno para o PSDB no Rio Grande do Sul, enquanto o PSDB perdeu para o PT no Pará. Esses dois exemplos opostos são um bom retrato e contêm boas lições das eleições de 2006:
1 - A polaridade entre PT e PSDB, nacional e nos Estados. No final das contas, o PT ganhou a reeleição para a Presidência com Lula e conquistou os governos de 5 Estados (Pará, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre), mas o PSDB venceu, entre outros, em São Paulo e Minas e vai administrar 51% do PIB. Um bom equilíbrio.
2 - Rio Grande do Sul e Pará confirmam o quanto o poder desgasta. As campanhas políticas muito caras, a necessidade de base de apoio parlamentar, as alianças heterodoxas com antigos adversários, as imensas demandas estruturais e sociais combinadas à falta crônica de recursos. Não há santo que resista a muitos anos de poder. Muito menos políticos, por mais capazes e bem intencionados.
O PT gaúcho dominou a Prefeitura de Porto Alegre durante 16 anos e elegeu o governador do Estado em 1998, que se tornou forte reduto petista. Mas o partido perdeu a prefeitura em 2004 e tem a segunda derrota consecutiva para o governo (2002 e 2006).
O PSDB paraense mandou no Estado durante 12 anos, com os governadores Almir Gabriel e Simão Jatene. Gabriel tentou um terceiro mandato e perdeu. O povo cansou dos tucanos, com uma forcinha adicional: o senador Jader Barbalho, do PMDB, foi decisivo cabo eleitoral de Lula e do PT no Estado.
3 - Como curiosidade, nos dois casos as vencedoras são mulheres: a economista tucana Yeda Crusius no Rio Grande do Sul e a senadora petista Ana Júlia no Pará. A terceira eleita é Wilma de Faria, no Rio Grande do Norte.
4 - Um outro movimento nos dois Estados foi a renovação de quadros, que implicou derrotas surpreendentes do velho caciquismo brasileiro na Bahia e no Maranhão.
O grupo de ACM tinha quatro mandatos consecutivos no governo, a máquina, a mão forte e um bom candidato, o governador Paulo Souto, mas perdeu já no primeiro turno para o petista Jaques Wagner na Bahia.
E o grupo Sarney tinha as mesmas condições no Maranhão, mas Roseana, que foi uma governadora bem avaliada e disputava o terceiro mandato, acabou derrotada no segundo turno para Jackson Lago.
Sugere exaustão. Os eleitores cansaram das décadas de poder de ACM na Bahia e do eterno Sarney (40 anos de mando) no Maranhão.
5 - Agora, é torcer para que os novatos em administração Yeda Crusius, Ana Júlia e Jaques Wagner, além do ex-prefeito de São Luiz Jackson Lago (que tem 72 anos), façam um ótimo trabalho. E consigam mostrar que não só o país avança para além de suas oligarquias regionais como vale muito a pena renovar.
E torcer, claro, para que Lula tenha um bom novo governo, apesar da regra de que o segundo mandato é sempre mais difícil, mais desgastante e até mais cruel do que o primeiro.
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