quarta-feira, novembro 01, 2006

Opiniões

Gilberto Dimenstein

A raiva do PT contra a mídia

Lula eleito, militantes do PT apontaram, esfuziantes, que os meios de comunicação estavam entre os derrotados; alguns deles chegaram mesmo a hostilizar raivosamente os jornalistas. Refletem as reclamações de Lula e de muitos de seus assessores. Interessante essa manifestação: tantos anos depois de neutralizados os militares, ainda não se tem claro, em vários setores, o papel da imprensa. O que só revela um cacoete autoritário.

Não vou negar que algumas reportagens e mesmo veículos de comunicação cometeram erros e exageros. Mas, no geral, os jornalistas fizeram o que tinham mesmo de fazer: vasculhar e incomodar o poder. E o fato é que o PT deu motivos de sobras para ser vasculhado na questão ética e administrativa.

Na oposição, o PT foi um beneficiário dessa atitude dos meios de comunicação. Muitos de seus dirigentes, a começar de Lula, estavam sempre à frente dos ataques contra os deslizes e roubalheiras. O PT cresceu, entre outras razões, porque vendeu a imagem (até certo ponto correta, vamos reconhecer) de limpeza, mas depois, no poder, não soube separar o público do privado.

É fundamental que os dirigentes do partido e seus representantes do governo sejam responsáveis e não permitam que se desmoralize ou se afete a importância da liberdade de imprensa.

31/10/2006 - 11h00
Chávez faz barulho, mas Lula manda na América Latina, diz "Le Figaro"
da BBC Brasil

O Brasil detém a "chave do equilíbrio" regional na América Latina, e por isso a eleição de Lula gerou alívio entre líderes dos países vizinhos, sustenta uma análise publicada pelo jornal francês "Le Figaro".

Em artigo intitulado "Na América Latina, Chávez faz barulho mas é Lula quem manda", a jornalista especializada Lamia Oualalou diz que, apesar das discórdias com os países vizinhos, "de Buenos Aires a La Paz, de Santiago a Havana", cada líder nacional reconhece o protagonismo do Brasil como porta-voz regional.

"Se a Venezuela de Hugo Chávez e sua guerra contra o 'imperialismo americano' monopoliza as manchetes, é em função de Brasília que Washington é obrigada a dosar sua intervenção na América Latina", ela destaca.

A dependência seria também do presidente boliviano Evo Morales, "que continua a testar a paciência do Brasil" na questão energética, e do argentino Nestor Kirchner, que "em outros tempos teria provocado uma verdadeira crise diplomática" com suas medidas protecionistas no Mercosul.

Para a jornalista, a "condescendência" de Lula se explica porque "o governo (brasileiro) está convencido de que para ombrear as capitais ocidentais, e aspirar a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país deve se tornar porta-voz da América do Sul".

"Esquerda suave"

A política externa de Lula também ganha espaço no "Christian Science Monitor". O diário americano diz que "a reeleição é boa para os laços brasileiros com aliados próximos e distantes".

"Além de promover aproximação com a China, a Ásia e o Oriente Médio, Lula manteve relações cordiais com o presidente (americano George W.) Bush e os principais líderes europeus, sendo para eles uma ponte na região."

Segundo o "Christian Science Monitor", Lula lidera a "esquerda suave" na América Latina --que incluiria ainda Argentina, Uruguai e Chile--, sem deixar de dar atenção ao líder mais radical do subcontinente, o venezuelano Hugo Chávez.

"Os Estados Unidos vêem Lula como uma pessoa que pode garantir a estabilidade da região, alguém que pode dialogar com Chávez e até contê-lo", opina um especialista brasileiro ouvido pelo jornal.

"Magia"

O espanhol "El País" dedica à reeleição um editorial intitulado "A magia de Lula". "A votação maciça de Lula tem pouco de magia. É resultado de seus programas de luta contra a pobreza", diz o jornal.

Mas o editorial se questiona sobre os rumos do segundo mandato, destacando que o primeiro mandato de Lula manteve o rigor nas contas públicas e a luta contra a inflação.

Neste segundo termo, diz o texto, Lula "pode se permitir mais alegrias para tentar conseguir o que anuncia: que o Brasil deixe de ser uma economia emergente e cumpra as expectativas em torno do país".

"Começa assim um 'Lula 2'? Não surpreende que suas primeiras declarações tenham servido para --além de desfrutar do 'momento mágico' que, ele disse, vive a democracia brasileira-- manter sob controle o resto das reformas políticas."

Ética

Em tom menos laudatório, o americano "The New York Times" questiona "se Lula interpretará que essa vitória lhe absolve dos casos de corrupção".

"Depois do primeiro turno, ele expressou arrependimento pelo que chamou 'erros' do partido --no entanto, mal ele prometeu o fim da má conduta, alguns de seus aliados mais próximos reapareciam envolvidos com o escândalo do dossiê", diz a matéria.

O jornal coloca esse dilema contextualizando as dificuldades de composição do governo no segundo mandato, já que "uma segunda lua-de-mel" com o eleitor ou com o Congresso "está descartada".

"Para conseguir aprovação do Legislativo para seus projetos, (Lula) corre o risco de ter de recorrer a negociações eticamente questionáveis que colocaram seu primeiro governo em apuros", diz o "NYT".


31/10/2006 - 12h07
Lula está em posição melhor do que FHC em 98, diz brasilianista
BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

O brasilianista Peter Hakim acredita que países latino-americanos não têm bons históricos de segundos mandatos presidenciais bem-sucedidos, mas crê que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com um contexto favorável para romper com essa tradição.

"Lula assume o segundo mandato com uma economia sólida. Ele fez um excelente trabalho no campo econômico e vem de uma eleição na qual teve mais de 60% dos votos, o que lhe confere bastante independência", afirma o presidente do Inter American Dialogue, um dos principais institutos de pesquisas políticas sobre o continente americano nos Estados Unidos.

Segundo Hakim, o momento atual é muito distinto do que foi vivido pelo antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, logo após sua reeleição.

"Ele começou o segundo mandato em meio a uma profunda crise financeira. Alguns dizem que esta teria sido até provocada pelos gastos necessários para financiar a sua reeleição", afirma, em referência ao ex-presidente que é também um dos integrantes do Inter American Dialogue.

Hakim identifica uma tendência latino-americana por segundos mandatos de pouco brilho. Ele afirma ser difícil detectar todos os fatores responsáveis por isso, mas identifica um deles: "Um dos problemas é o grande esforço feito para a reeleição, que gera desgastes políticos. Foi o caso de Carlos Menem, na Argentina, e Fernando Henrique Cardoso, que gastou muito capital político na revisão da Constituição do Brasil para obter sua reeleição".

Histórico

O brasilianista lista ainda outros casos. "Houve também [Alberto] Fujimori, no Peru, e Carlos Andrés Perez, na Venezuela, que não teve um segundo mandato consecutivo, mas foi reeleito. São poucas as exceções, como Leonel Fernandez, da República Dominicana", diz, em menção ao presidente dominicano que foi reeleito em 2004 e tem recebido elogios por seu ímpeto modernizador.

No entender de Hakim, Lula poderá seguir o mesmo exemplo, até porque o presidente brasileiro está preocupado com seu legado político.

"Lula é uma pessoa notável e fez conquistas impressionantes. Ele construiu a maior federação trabalhista da América Latina e montou um partido de esquerda do nada. Não consigo imaginar que ele não esteja pensando além do dia-a-dia. Ele é um homem de extraordinária imaginação. Não creio que não esteja pensando no legado que deixará para o Brasil e seu povo."

O analista descarta a hipótese de que o presidente dê uma guinada para a esquerda em seu novo mandato.

"Lembremos que Lula não é um esquerdista intelectual. Ele saiu do movimento trabalhista e sabe que para combater a pobreza são necessários empregos e crescimento. Ele aprendeu que para crescer é necessário investir, algo que não pode ser obtido sem que se conduza a economia de uma forma disciplinada, como ele vem fazendo."

Conflito interno

Hakim crê, no entanto, que há um conflito dentro do governo entre os que defendem um crescimento econômico mais rápido e os adeptos de uma linha que preza que o crescimento esteja condicionado à contenção da inflação e à disciplina fiscal.

Mas ele acrescenta que "esse conflito existe desde que Lula tomou posse. Muitos dentro do PT queriam que ele gastasse mais para investir em programas sociais. Mas acredito que os que pensam assim irão se decepcionar mais uma vez. Tudo leva a crer que ele seguirá com uma política fiscal rigorosa. Ele próprio reconheceu que sua principal conquista foi a estabilidade".

Ainda que não anteveja reformas radicais nos próximos quatro anos, Hakim diz: "Suspeito que ele irá tentar ser mais agressivo no sentido de estimular reformas que permitirão um crescimento mais rápido do que o que temos visto, mas não dependerá só dele, mas também da aliança política que ele conseguir montar".

De acordo com Hakim, o presidente poderá ter dificuldades para cumprir esse objetivo, porque "o Congresso brasileiro é fragmentado, o que torna difícil formar coalizões estáveis. Por mais que queira ser agressivo, ele terá também de mostrar habilidade política".

Relação com EUA

O analista não crê que uma provável vitória dos democratas no Congresso e talvez até no Senado, nas eleições de meio período do dia 7 de novembro, possam alterar as relações com o Brasil.

Historicamente, os democratas tendem a ser mais protecionistas do ponto de vista econômico e a zelar pelos interesses da indústria americana. Hakim acredita, no entanto, que Lula e seus ministros já aprenderam a lidar com isso.

"No início, todos se surpreenderam ao ver como Lula e Bush se deram bem. Os dois países discordam em muitos assuntos comerciais, mas os Estados Unidos consideram o Brasil um aliado em muitos temas, tanto que os dois países estão colaborando no Haiti", afirma, em referência aos soldados brasileiros que integram a missão de paz no país caribenho.

Segundo Hakim, "os Estados Unidos aprenderam a lidar com o Brasil, e o Brasil aprendeu a lidar com um país que não está disposto a fazer concessões em termos de comércio".


31/10/2006 - 13h12
Maia quer candidatura própria do PFL em 2010 e indica distanciamento do PSDB

GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

O PFL reúne a Executiva Nacional do partido nesta terça-feira para discutir a conduta da legenda nos próximos anos com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), defendeu hoje que o PFL já comece a traçar estratégias para lançar candidato próprio à Presidência da República em 2010 --sem apenas apoiar os candidatos do PSDB.

"É natural que o PSDB e o PFL trabalhem próximos. O que eu defendo é que o PFL construa uma alternativa de poder nas próximas eleições de 2010. As candidaturas majoritárias são muito importantes para qualquer partido. Ser alternativa de poder é o caminho natural do PFL", disse.

Essa proposta sinaliza a intenção do PFL de se distanciar do PSDB em 2010. Neste ano, os dois partidos estiveram juntos na chapa que apoiou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin. É que o PSDB também pretende ter candidato próprio à Presidência em 2010.

Maia disse que o PFL deve reafirmar seu papel de oposição ao governo Lula, com a aprovação de projetos do Executivo considerados prioritários para o país. "Vamos continuar no papel de crítica ao governo. O governo federal não pode criar um clima de consenso, porque consenso não existe. Se estamos na oposição, a maior parte dos projetos encaminhados pelo governo não tem o nosso apoio", afirmou.

Roseana

Além de discutir o futuro da legenda, a Executiva do PFL também decide esta tarde a conduta a ser aplicada à senadora Roseana Sarney (PFL-MA), candidata derrotada ao governo do Maranhão. Roseana contrariou a orientação do partido ao declarar apoio à reeleição do presidente Lula.

Para Maia, o PFL deve aplicar punições severas à senadora. "Apesar de me dar muito bem com ela, é difícil aceitar a Roseana votando contra o governo nos últimos quatro anos. A história dela dentro do PFL está chegando ao fim", disse.

31/10/2006 - 13h50
Freire diz que governo não vai mudar e que PPS continua na oposição
da Folha Online

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire, afirmou hoje que a legenda deve continuar oposição no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Tudo o que é novo desperta a curiosidade: será que vai mudar? Mas esse governo não tem massa crítica nem massa cinzenta para mudar", disse o parlamentar, após reunião da Executiva Nacional da legenda.

O partido, que vai fazer parte de uma nova formação política, a "Mobilização Democrática" (junto com o PMN e o PHS), para superar os rigores da cláusula de barreira, deve decidir em um congresso nacional a apresentação de um projeto para o país. Juntos, os três partidos terão 27 parlamentares.

Freire ainda comentou as declarações do presidente reeleito, no sentido de que pretendia chamar os líderes da oposição para negociar a governabilidade a partir de 2007.

"É claro que vamos apoiar os projetos de interesse do país, mas estaremos na oposição, onde as urnas nos colocaram", afirmou. "Fazemos oposição não só aos descalabros éticos, ao assalto ao poder para perpetuar ali um partido político, mas também à política econômica", acrescentou.


31/10/2006 - 14h03
Chávez destaca importância da reeleição de Lula para a América Latina
da Ansa, em Caracas

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, parabenizou seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pela reeleição e sustentou que sua vitória "é muito importante para o projeto de integração da nossa América".

"Ofereceremos aplausos a Lula e parabenizamos o povo do Brasil pela sábia decisão de reeleger, com outros 60% de votos, este grande irmão, amigo, companheiro socialista e líder operário."

Para Chávez, a reeleição de Lula é "muito importante" não apenas para o Brasil, mas também para o projeto de unificação da região. "O capitalismo imperialista não conseguiu realizar seu objetivo, que era tirar Lula da estrada, porque o povo do Brasil que votou no presidente colocou obstáculos no caminho."

"Aqui se dizia que estava por vir a Era da Área de Livre Comércio da América [Alca, projeto defendido pelos Estados Unidos], mas hoje ocorre o oposto. Como disse Lula ontem à noite, agora ninguém mais fala sobre a Alca, apenas no Mercosul e na união do sul".

Segundo Chávez, "a Venezuela está no coração desse projeto, com Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e outros países, cada vez mais, para integrar a América Latina e o Caribe".

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