'Sou otimista, adoro uma crise, adoro ser provocado'
'Às vezes, eu me sinto como se fosse o Dom Quixote,
'Parte da elite brasileira é colonizada intelectualmente'
'O mercado teve uma diarréia daquelas, insuportável'
'O Brasil vai sair dessa crise 'por cima da carne seca'
Lula trazia um pronunciamento escrito por assessores. Mas avisou: "Não tem nenhuma razão para eu ler esse discurso aqui".
Falaria sobre o Fundo Setorial do Audivisual, lançado no Rio, nesta quinta (4). Desistiu: "A pessoa menos indicada para falar de audiovisual seria eu".
Preferiu tratar de "um outro assunto". Brindou a platéia de produtores culturais e artistas com um improviso de 45 minutos sobre a crise global.
Em certos momentos, recorreu a um linguajar de botequim. Valeu-se de uma analogia médica para explicar o seu otimismo maroleiro.
"Se um de vocês fosse médico e atendesse a um paciente doente, o que vocês falariam para ele?..."
"...Olha, companheiro, o senhor tem um problema, mas a medicina já avançou demais, a ciência avançou, nós vamos dar tal remédio e você vai se recuperar..."
"...Ou você diria: meu, sifu [corruptela de 'se fodeu']. Vocês falariam isso para um paciente de vocês? Vocês não falariam".
Comparou o mercado a um adolescente rebelde. Do tipo que ignora os pais. Mas, à menor dificuldade, refugia-se em casa. "Aí é paizinho, mãezinha".
Depois, formulou uma metáfora fecal: "O mercado teve uma dor de barriga". E "não foi uma dor de barrigazinha, foi uma diarréia daquelas, braba, insuportável".
Arrematou: "Quando o mercado teve essa diarréia, quem é que eles chamaram para salvá-los? O Estado, que eles negaram durante 20 anos".
Embora grave -"maior do que 1929"- a crise é, no dizer de Lula, paradoxal. Surgiu "no coração dos países ricos [...]. E os países menos vulneráveis são os emergentes, dentre os quais o Brasil".
Num instante em que as empresas começam a demitir, Lula bravateou: "Em época de crise, a gente não se acovarda [...]. Eu sou um cidadão otimista".
Olhou para Sérgio Cabral, governador do Rio. E pespegou: "Você me conhece há muito tempo, Serginho. Você sabe que eu adoro uma crise..."
"...Eu adoro ser provocado, porque eu acho que é nesse momento que você prova se pode crescer ou não pode crescer".
Disse que conhece a crise de menino: "Eu sou originário de crise. Uma nordestina, quando tem o oitavo filho, é uma crise absoluta".
Alfinetou a imprensa: "Eu fico vendo [...] o que se escreve sobre a crise, o que se fala na televisão sobre a crise, o que se comenta no rádio..."
"...Tem um tipo de gente que parece que torce para que a crise venha e quebre o Brasil. Tem um tipo de gente que está doido para dizer...:
"...'Está vendo? Eu não falei que o Lula não sabia administrar o país? Eu não falei que o Lula não sabia cuidar da crise?'..."
Alvejou também os bancos. E revelouo teor de um telefonema trocado com o "companheiro Roger [Agnelli], presidente da Vale.
Evocou as crises da era FHC -Ásia, Rússia e México. E alfinetou: "Essas três crises, juntas, importaram num aporte de recursos de US$ 200 bilhões. E vocês sabem que o Brasil quebrou duas vezes naquele período".
Na seqüência, jactou-se: "Essa crise agora já envolveu o equivalente a US$ 4 trilhões. E o Brasil não quebrou. Nem vai quebrar".
Lula sente-se só: "Às vezes eu me sinto como se fosse o Dom Quixote, sabe, às vezes eu me sinto sozinho tentando pregar o otimismo [...]".
Em versão atualizada de um fenômeno que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata", Lula disse que "parte da eleite brasileira é colonizada intelectualmente".
Queixou-se: valoriza-se aqui mais a promessa de Barack Obama de criar 2 milhões de empregos até 2011 do que as 2,1 milhões de carteiras assinadas no Brasil em 2008.
Num exemplo prosaico, Lula deu uma idéia do tipo de comportamento que pretende adotar na pele de animador de crise.
Contou ter recebido "outro dia" o dirigente da "federação do comércio de um determinado estado". Repreendeu-o:
"Você faz uma pesquisa, constata que aumenta a desconfiança do consumidor, divulga a pesquisa da desconfiança e não divulga nada para restabelecer a confiança. Que vendedor é você?"
Ensinou: "Ele deveria ter a pesquisa para tomar a decisão de chamar um publicitário e dizer: 'Faça uma pesquisa para motivar esse povo, se não eu vou fomentar que ele compre menos'."
Lula parece acreditar que, associando a marquetagem às medidas que o governo já adotou e ainda vai anunciar, o Brasil saírá da crise global "por cima da carne seca".
PS.: O áudio do improviso de Lula está disponível aqui. São 45min45s.
A versão impressa pode ser lida aqui. É peça obrigatória para quem deseja decifrar a alma do presidente.
Preparada pelo Planalto, a transcrição anota um "inaudível" no trecho em que Lula disse "sifu". É parola de assessor mais realista do que o rei.
No áudio, a versão popular do "se fodeu" não poderia soar mais nítida.
Falaria sobre o Fundo Setorial do Audivisual, lançado no Rio, nesta quinta (4). Desistiu: "A pessoa menos indicada para falar de audiovisual seria eu".
Preferiu tratar de "um outro assunto". Brindou a platéia de produtores culturais e artistas com um improviso de 45 minutos sobre a crise global.
Em certos momentos, recorreu a um linguajar de botequim. Valeu-se de uma analogia médica para explicar o seu otimismo maroleiro.
"Se um de vocês fosse médico e atendesse a um paciente doente, o que vocês falariam para ele?..."
"...Olha, companheiro, o senhor tem um problema, mas a medicina já avançou demais, a ciência avançou, nós vamos dar tal remédio e você vai se recuperar..."
"...Ou você diria: meu, sifu [corruptela de 'se fodeu']. Vocês falariam isso para um paciente de vocês? Vocês não falariam".
Comparou o mercado a um adolescente rebelde. Do tipo que ignora os pais. Mas, à menor dificuldade, refugia-se em casa. "Aí é paizinho, mãezinha".
Depois, formulou uma metáfora fecal: "O mercado teve uma dor de barriga". E "não foi uma dor de barrigazinha, foi uma diarréia daquelas, braba, insuportável".
Arrematou: "Quando o mercado teve essa diarréia, quem é que eles chamaram para salvá-los? O Estado, que eles negaram durante 20 anos".
Embora grave -"maior do que 1929"- a crise é, no dizer de Lula, paradoxal. Surgiu "no coração dos países ricos [...]. E os países menos vulneráveis são os emergentes, dentre os quais o Brasil".
Num instante em que as empresas começam a demitir, Lula bravateou: "Em época de crise, a gente não se acovarda [...]. Eu sou um cidadão otimista".
Olhou para Sérgio Cabral, governador do Rio. E pespegou: "Você me conhece há muito tempo, Serginho. Você sabe que eu adoro uma crise..."
"...Eu adoro ser provocado, porque eu acho que é nesse momento que você prova se pode crescer ou não pode crescer".
Disse que conhece a crise de menino: "Eu sou originário de crise. Uma nordestina, quando tem o oitavo filho, é uma crise absoluta".
Alfinetou a imprensa: "Eu fico vendo [...] o que se escreve sobre a crise, o que se fala na televisão sobre a crise, o que se comenta no rádio..."
"...Tem um tipo de gente que parece que torce para que a crise venha e quebre o Brasil. Tem um tipo de gente que está doido para dizer...:
"...'Está vendo? Eu não falei que o Lula não sabia administrar o país? Eu não falei que o Lula não sabia cuidar da crise?'..."
Alvejou também os bancos. E revelouo teor de um telefonema trocado com o "companheiro Roger [Agnelli], presidente da Vale.
Evocou as crises da era FHC -Ásia, Rússia e México. E alfinetou: "Essas três crises, juntas, importaram num aporte de recursos de US$ 200 bilhões. E vocês sabem que o Brasil quebrou duas vezes naquele período".
Na seqüência, jactou-se: "Essa crise agora já envolveu o equivalente a US$ 4 trilhões. E o Brasil não quebrou. Nem vai quebrar".
Lula sente-se só: "Às vezes eu me sinto como se fosse o Dom Quixote, sabe, às vezes eu me sinto sozinho tentando pregar o otimismo [...]".
Em versão atualizada de um fenômeno que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de vira-lata", Lula disse que "parte da eleite brasileira é colonizada intelectualmente".
Queixou-se: valoriza-se aqui mais a promessa de Barack Obama de criar 2 milhões de empregos até 2011 do que as 2,1 milhões de carteiras assinadas no Brasil em 2008.
Num exemplo prosaico, Lula deu uma idéia do tipo de comportamento que pretende adotar na pele de animador de crise.
Contou ter recebido "outro dia" o dirigente da "federação do comércio de um determinado estado". Repreendeu-o:
"Você faz uma pesquisa, constata que aumenta a desconfiança do consumidor, divulga a pesquisa da desconfiança e não divulga nada para restabelecer a confiança. Que vendedor é você?"
Ensinou: "Ele deveria ter a pesquisa para tomar a decisão de chamar um publicitário e dizer: 'Faça uma pesquisa para motivar esse povo, se não eu vou fomentar que ele compre menos'."
Lula parece acreditar que, associando a marquetagem às medidas que o governo já adotou e ainda vai anunciar, o Brasil saírá da crise global "por cima da carne seca".
PS.: O áudio do improviso de Lula está disponível aqui. São 45min45s.
A versão impressa pode ser lida aqui. É peça obrigatória para quem deseja decifrar a alma do presidente.
Preparada pelo Planalto, a transcrição anota um "inaudível" no trecho em que Lula disse "sifu". É parola de assessor mais realista do que o rei.
No áudio, a versão popular do "se fodeu" não poderia soar mais nítida.
Fontye: blog do Josias de Souza
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