terça-feira, dezembro 09, 2008

Significados- GNOSE parte I

GNOSE

Conceito de Gnose

Gnose é o substantivo do verbo gignósko, que significa conhecer.
Gnose é conhecimento superior, interno, espiritual, iniciático. No grego clássico e no grego popular, koiné, seu significado é semelhante ao da palavra epistéme.
Em filosofia, epistéme significa "conhecimento científico" em oposição a "opinião", enquanto gnôsis significa conhecimento em oposição a "ignorância", chamada de ágnoia.
A gnose é um conhecimento que brota do coração de forma misteriosa e intuitiva. É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual, mas aquele conhecimento que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna e maravilhosa.
O objeto do conhecimento da Gnose é Deus, ou tudo o que deriva dEle. Toda gnose parte da aceitação firme na existência de um Deus absolutamente transcendente, existência que não necessita ser demonstrada. "Conhecer" significa ser e atuar, na medida do possível ao ser humano, no âmbito do divino. Por isso, "conhecer" implica a salvação de todo o mal (Ego) em que possa estar imerso o homem que venha a possuir esse "conhecimento".
Gnose é ao mesmo um conceito religioso e psicológico, além de científico, filosófico e artístico. A partir desta visão, o significado da vida aparece como uma transformação e uma visão interior, um processo ligado ao que hoje se conhece como psicologia profunda.
O desejo e as tentativas de conseguir amor e felicidade são a saudade inesgotável do Pleroma, ou seja, da Plenitude do Ser, que é o verdadeiro lar da alma. O desejo desse "conhecimento" é uma nostalgia das origens e procede de um original anelo humano de alcançar a Unidade, do desejo natural, perrene e universal, de fusão do homem com o Ser, do qual acredita ter sido originado.
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A Gnose é o comportamento religioso que traduz esta profunda e dolorosa sensação que sentem os homens e mulheres pela separação dos pólos humano e divino. É, no fundo, uma tentativa de compreensão das relações entre o homem e a divindade.
Para Jung, muitos gnósticos nada mais eram do que psicólogos. "A gnose é, indubitavelmente, um conhecimento psicológico, cujos conteúdos provêm do inconsciente. Ela chegou às suas percepções através de uma concentração da atenção sobre o chamado "fator subjetivo" que consiste, empiricamente, na ação demonstrável do inconsciente sobre a consciência. Assim se explica o surpreendente paralelismo da simbologia gnóstica com os resultados a que chegou a psicologia profunda".

Fontes do Gnosticismo Antigo

1- Fontes Diretas
São os escritos gnósticos que chegaram à atualidade diretamente dos autores gnósticos.
O Núcleo Principal das Fontes Diretas: Biblioteca de Nag-Hammadi. Foi encontrada dentro de uma urna de argila em 1945 pelos irmãos Califa e Muhamad Ali al Salman, a 11 quilômetros da cidade de Nag-Hammadi, em Jabal (montanha) al-Taarif, que tem mais de 150 cavernas. A história de sua descoberta está plena de uma série de aventuras.
Essa biblioteca compõe-se de quase 60 textos, encadernados em couro, em 13 livros de papiro, procedentes de várias fontes: revelações de profetas da gnose anteriores ao cristianismo; escritos gnósticos contendo alguns elementos cristãos; escritos do cristianismo gnóstico; tratados relativos à alquimia.
Jung, através de informações de um amigo, um historiador holandês, Gilles Quispel, comprou um dos livros que haviam sido contrabandeados e estavam à venda nos Estados Unidos, e este veio a ser o Jung Codex.
Há controvérsias quanto às datas: traduções feitas em torno do séculos II e IV de manuscritos ainda mais antigos.
2- Fontes Indiretas
São os escritos de autoridades eclesiásticas com o objetivo de refutar as obras gnósticas.
Dentre os autores destacam-se : Irineu de Lyon, Hipólito de Roma, Epifânio de Salamina. Esses autores nem sempre foram fiéis às fontes que citavam, alguns trazem resumos fidedigno.

Características Gerais da Antiga Gnose

Quando o cristianismo chegou, foi aceito sem reservas, com fé total. Mas, ao acolher a nova doutrina as pessoas não abandonaram suas antigas crenças e mesclaram a doutrina que chegava aos antigos rituais. Desta maneira, ao invés das pessoas se converterem à nova religião, o que ocorreu na prática foi o cristianismo converter-se à antiga religião. As palavras do Evangelho misturaram-se aos antigos rituais.
Nos séculos 1º e 2º d.C., as novas idéias, surgidas desta fusão do cristianismo com antigas religiões, expandiram-se por todo o Oriente Médio e pela Grécia, até a Gália. E em cada região que se fixavam iam se amalgamando aos costumes locais, fazendo surgir novas correntes marcadas pelos principais mestres e pelos locais onde chegavam.
Das diversas ramificações destacam-se:
os docetas, que tinham como representantes principais Dociteu e Saturnino. Davam maior importância à realidade do Jesus Cristo Interior, que existe e é dentro de cada um de nós, e por isso aceitavam o Nascimento, Paixão e Ressurreição dessa Potência Crística profunda.
os ebionitas, liderados por Ebion, acreditavam que Jesus havia nascido de forma natural de José e Maria e só depois, pelos mistérios Iniciáticos, conseguiu a encarnação do Cristo Cósmico, no momento do Batismo;
os ofitas, para eles a serpente representava o princípio espiritual e acreditavam ter sido a serpente a primeira a se rebelar contra o Demiurgo e a propor a liberação do homem através da gnose, a serpente era considerada boa, era o princípio da gnose; eis aí o mistério da manifestação dualística da famosa serpente Kundalini dos orientais, que tanto pode fazer o homem ascender aos céus do Pleroma quanto se converter na terrível "cauda de Satã", se mal canalizada;
os barbelognósticos (palavra que significa barba-eló, "o Deus em quatro", ou Tetragrammaton) afirmavam que o pensamento da divindade contém em si a própria explicação: pensamento, pré-conhecimento, incorruptibilidade e vida eternas; que todos os Cosmos derivam do Protocosmos, que o Todo vem do Uno. Eles eram profundos conhecedores das Leis dos Sete Cosmos;
os marcionistas, que precederam o maniqueísmo, liderados pelo padre cristão Marcião, contrapôs o Antigo Testamento ao novo Testamento, como o faria também Lutero (este porém de forma degenerada), mais tarde;
o maniqueísmo, fundado por Manes, no século 3º d.C., baseava-se no dualismo, e o Supremo era rodeado por inúmeros Eons. Lúcifer era o agente da disputa que ocorria tanto nos planos superiores quanto nos planos inferiores. Dessa disputa surge o mundo visível. A redenção se daria na volta dos elementos luminosos presos no Cosmos à sua origem também com o auxílio de Lúcifer (eis aí a origem da frase alquimista: "Roubar o Fogo do Diabo");

· os sethianos;
· os sethianos ofitas;
· os luciferianos (ou luciferinos) ;
· os iscariotes; etc.

As idéias principais são:
A Divindade Suprema - Todos os sistemas gnósticos partem do pressuposto da existência de Deus. Deus está no "princípio e na origem de tudo. Ele não necessita de nada, mas isto não impede que ele esteja acompanhado de um "ser que é como que a outra cara de si mesmo", o seu cônjuge, sua Consciência, seu Pensamento, sua Paz, seu Silêncio, etc. É Aelohim gerando Elohim, ou seja, Deus-Imanifestado sendo a Origem (Origo) do Demiurgo, dos Deuses Criadores. Pode ser interpretado como a derivação em duas formas divinas, o Pai e a Mãe Cósmicos.
Em alguns sistemas aparece como o Eon Sabedoria ou Pneuma (vocábulo feminino, em hebraico), também chamada Ruah, (palavra hebraica feminina), que significa Espírito, e desempenha um papel importante na geração do Cosmos. Sofia, ou Sabedoria, criou o visível com a ajuda dos quatro elementos.

Assim aparece uma Trindade nos sistemas gnósticos.
· Pleroma - O Deus Uno, em determinado momento, através de emanação, projeção ou geração, projeta-se no exterior, desdobrando-se, "gerando" uma série de entidades divinas, os Eons, ou Sefirotes da Cabala.
· Os Eons são, portanto, entidades divinas procedentes do Uno, e são o inteligível ou o perceptível do Uno. Essas emanações, ou gerações intradivinas, originadas do Uno-Transcendente, constituem o Pleroma, ou Plenitude da Divindade.
Na formação do Pleroma há que se distinguir dois momentos: em um primeiro estágio é formada a substância ou ser dos Eons, em um segundo momento é formada a gnose ou conhecimento.
O Transcendente dá a esses Eons, formados substancialmente, o conhecimento de si mesmos só num momento posterior. É quando passam a ser divinos. Esta duplicidade de momentos mostra que a gnose é pura graça, e que só a gnose outorga a um ser, por mais divino que seja, a sua plenitude substancial.
A queda pleromática - Dentro do Pleroma acontece uma falha. Esta "falha" irá explicar o nascimento do cosmos e a origem do mal.
Entre os dois momentos do Pleroma, quando ocorre a formação dos Eons, segundo a substância e segundo o conhecimento, ocorre esta falha. Um dos entes divinos, a Sabedoria (ou Sofia), quer chegar ao conhecimento do Uno antes do tempo. Isto seria um desejo correto, justo se acontecesse no momento certo, de acordo com a vontade do Transcendente, mas, como acontece antes da hora, passa a ser uma paixão.
Porém esta paixão, este desejo prematuro pelo conhecimento pleno do Uno, continua sendo efetivo, apesar de imperfeito, pois é o desejo de uma entidade divina. Ainda assim esta paixão provoca a queda do Eon e por isto este Eon será expulso do Pleroma.
Este lapso de tempo em que o Eon Sabedoria fica fora do Pleroma tem uma dupla dimensão conceitual: teológica e cosmológica.
Teologicamente representa o nascimento do pecado, da deficiência, do Mal, que exigirá a necessidade de um Salvador. Com o Salvador se inicia, dentro do Pleroma, um processo de salvação, que mais tarde se repetirá neste mundo. Cosmologicamente, este "pecado" do Eon Sabedoria significará o princípio da matéria, do universo todo. É da paixão deste Eon que surgirá a substância informe e espessa da qual irá brotar todo o universo material.
O Eon caído se arrepende de seu pecado e para que o Pleroma não fique incompleto, para que a Totalidade divina não seja abalada por isto, o Uno, através do Salvador, resgata o Eão Sabedoria. Separa-o da substância informe e espessa que resultou da sua paixão e que deu origem ao universo e o faz retornar ao Pleroma (tudo isto está descrito na Bíblia gnóstica Pistis Sofia).
Desta forma, tem origem um duplo Eon pecador: a) um superior que se arrependeu e que volta ao Pleroma e passa a ser denominado Sabedoria Superior; b) outro que permanece fora do Pleroma, filho da Sabedoria Superior, e passa a ser denominado Achamot ou Echamot.
A Sabedoria também ficará dividida em duas partes: a superior, redimida, reintegrada ao Pleroma; e a inferior, que ficará fora do Pleroma e impedida pelo Limite de retornar. Será o agente divino no exterior e posteriormente, vai dar origem a matéria.
O Transcendente então gera mais um Eon, denominado "Limite", que tem a função de separar. Separa os Eons do nível superior e do nível inferior, o universo material. O "Limite" entre o Pleroma e o universo, que será o modelo da cruz redentora no gnosticismo cristão, que redimirá o homem e separará os não-gnósticos, que serão condenados.

Fonte:www.gnosisonline.org

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