domingo, junho 04, 2006

Como todo canalha é oportunista...

Deixem o futebol fora disso

No Planalto

Os brasileiros estão condenados, desde 1994, a uma nefasta simultaneidade. O calendário político se entrecruzou com a folhinha futebolística. As eleições presidenciais passaram a ocorrer no mesmo ano da Copa do Mundo. E o país viu-se compelido a conviver com a indesejável mistura da bola com campanhas políticas.

Na manhã da última quinta-feira, ao ser informado de que o IBGE anunciaria um dado favorável ao seu governo –o crescimento de 1,4% do PIB no primeiro trimestre de 2006—, Lula disse ao portador da novidade: “Agora só falta a gente ganhar a Copa”.

A observação está eivada de segundas intenções. Dela se depreende que o candidato Lula não hesitará em aproveitar-se do eventual triunfo do escrete. Não titubeará em enrolar-se à bandeira nacional, para tentar associar o êxito nos gramados ao desempenho de um governo que ele julga bem-sucedido.

Em São Paulo, distribuíram-se tabelas dos jogos e a inscrição "Copa 2006 - Lula é show de bola". O ainda: "E o Brasil não pode andar pra trás. O povo sabe: Lula de novo é continuar construindo o futuro".
O expediente não chega a ser original. Em 1994, foi ensaiado contra Lula. Formuladores do Plano Real, principal cabo eleitoral de FHC, também vislumbraram nos movimentos da bola uma oportunidade para enganchar o patriotismo da torcida aos destinos da nova moeda, lançada no mês da Copa.

Parece improvável que os gols de Romário e de Bebeto tenham influído no triunfo do real e da candidatura de FHC. Se a seleção houvesse perdido aquela Copa, o plano econômico teria sucumbido? A resposta óbvia é “não”. Difícil aceitar a tese de que Roberto Baggio tenha mandado pelos ares o pênalti que deu o tetra-campeonato ao Brasil movido por um desconhecido sentimento tucano.

O absurdo não impede, porém, que, a cada quatro anos, surjam políticos interessados em vestir-se de verde e amarelo. A tática evoca um dos piores momentos da ditadura. Em 1970, ano em que a arte do time de Pelé contrastava com a rudeza do governo de Médici, muitos brasileiros viram-se tentados a torcer contra a seleção. Só para azedar os ímpetos patrióticos do general.

Não havia eleições naquela época. Estava em jogo algo bem pior: a perpetuação de um regime iníquo. Nestes tempos de normalidade democrática, o melhor que os candidatos têm a fazer é deixar o torcedor em paz. Lula manifestou o desejo de voar para a Alemanha caso a seleção chegue às finais. Foi desaconselhado por Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Que Sua Excelência aceite o conselho. O futebol é coisa séria demais para ser misturada à encrenca eleitoral.

Fonte.josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br

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