terça-feira, junho 20, 2006

Sobre Ética e moral

LÉ COM LÉ, CRÉ COM CRÉ
por Adriana Vandoni

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. Quando um pressionado Roberto Jefferson esperneou e dedurou o esquema de corrupção que acontecia nas dependências do Palácio do Planalto, muitos se horrorizaram. Aquilo era um escândalo! Mas Jefferson era apenas um dissidente de uma nefasta organização. Com o passar dos meses foram se revelando mais e mais subesquemas e subconspirações. Foram se desvendando o submundo da política brasileira, hoje composta por subcidadãos políticos que enlameiam os poucos de bem que ainda existem, uma meia dúzia de gatos pingados, vozes isoladas e roucas.Para essa escória não existe temor. Valem-se da indecente imunidade parlamentar que os transforma em bandidos especiais e, assim, se esquivam da Justiça. Chegamos a um momento verdadeiramente histórico, como diria Lula com sua hiperbolização maníaca. Os políticos não se sentem constrangidos por roubarem, a população não se escandaliza mais com os escândalos e a Justiça não tem mais instrumentos para colocar os bandidos nas prisões. O Brasil está se degenerando moralmente. Deixará de ser conhecido como um dos maiores exportadores de prostitutas escravizadas, para ser o centro do escárnio. O país onde a lei é feita para punir pobres comuns e beneficiar aqueles que surrupiam o fruto do suor do povo. Esses que se nutrem do trabalho alheio, praticam uma política nojenta que denigre toda a classe. Políticos de bem precisam se rebelar.Caminhando assim a nação vai se deteriorando, os parâmetros morais do brasileiro estão sendo adulterados. Técnicos de estatais passam três anos colecionando irregularidades para, em anos eleitorais, ganharem um “extrazinho”; bem-intencionados e insuspeitos financeiros de campanha são proprietários ocultos de empresas competentes que vencem todas as concorrências, por clara competência; simples amigos são operadores; pseudoadvogados são pombos-correio de ladrões.A falta de moral chega a tal ponto que não se admite que alguém possa ser diferente. Esta semana minha vida foi vasculhada, estavam em busca de algo que pudesse me comprometer ou de alguém que pudesse me persuadir a ser mais, digamos, complacente com desfalques. Chegaram a comentar que eu faço parte da “folha de pagamento do senador Antero”.
Há Há Há, fizeram-me rir e quebraram a cara. Não faço parte da “folha de pagamento” de nenhum político, o fato de elogiar este ou aquele não quer dizer que eu receba deles para isso. Ai, mas que gente mais sem noção! Esses meus arapongas pensam assim porque agem assim, porque um dia já se venderam, porque possuem uma imensa lista de beneficiados nas suas folhas de pagamento, porque compram agrados por anos a fio e assim mantêm suas bases, tudo com o dinheiro do contribuinte. Foram procurar meu nome em alguma folha porque raciocinam que todos são compráveis. Eu não estou a venda e, ao contrário dos meus arapongas, não possuo folha corrida.Preocupa-me essa complacência com a imoralidade de cleptomaníacos públicos e a tolerância e inércia da população. Entendo a dificuldade de ir contra esse poder maléfico, mas precisamos nos resgatar deste estado de putrefação social. É por essas e outras que tudo está desmoralizado, até o crime organizado ficou mais promíscuo quando se juntou a políticos.Temos cura? O Brasil consegue se desviar desse caminho rumo ao deteriorável? Difícil! O último que se elegeu para “quebrar paradigmas” só fez reforçar, fortalecer e se juntar aos antes “demonizados”.

Vovó já dizia: lé com lé, cré com cré.

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Blog: www.argumento.bigblogger.com.br

Fonte:diegocasagrande.com.br

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