domingo, abril 23, 2006
Operação Armênia
Como o governo deixou de salvar a VARIG
Às vésperas das eleições municipais de 2004, o governo teve tudo nas mãos para garantir que a VARIG continuasse voando. Na hora H, não mexeu um dedinho com medo de prejudicar o desempenho do PT em Porto Alegre e em outras capitais.
Resultado: o PT emplacou apenas os prefeitos de Aracaju, Fortaleza, Recife e Belo Horizonte. E a menos de seis meses das próximas eleições, a VARIG corre o risco de sumir de vez dos céus do país.
Na última quinta-feira, anunciou que não voará mais para Portugal a partir de 15 de maio. Serão cancelados pouco mais de 40 vôos semanais. A venda de passagens no exterior chegou a render à VARIG um bilhão de dólares por ano.
Assim como hoje, também em 2004 não havia solução possível de mercado para a empresa simplesmente porque sua dívida era muito maior do que seu patrimônio.
É fato que a VARIG receberia uma grana preta da União se ganhasse em definitivo ações que movera contra ela por causa de planos econômicos de governos passados. A falida TRANSBRASIL havia ganhado ações da mesma natureza.
Ocorre que a União tinha meios de empurrar na Justiça uma briga que perderia na certa. E a VARIG não tinha fôlego financeiro para esperar o desfecho da briga.
Imaginou-se então fazer um acerto de contas. A VARIG desistiria das ações contra a União e o governo perdoaria suas dívidas com o setor público.
O ministro da Fazenda Antonio Palocci bateu o pé e disse não. Os agricultores exigiriam mais tarde igual tratamento. E somente aí poderiam ir pelo ralo R$ 90 bilhões.
Foi então que começou a ser bolada a chamada “Operação Armênia”.
Por um bilhão de dólares
Azul, vermelho e laranja são as cores da bandeira da Armênia, país que faz fronteira com a Turquia e o Irã, uma das 15 repúblicas da ex-União Soviética até 1991. Azul, vermelho e laranja são também as cores da TAM e da GOL.
O nome “Operação Armênia” foi dado à tentativa de salvação da VARIG pelo então ministro da Defesa José Viegas, atual embaixador do Brasil na Espanha.
Pacientemente, durante quase três meses, Viegas reuniu-se em segredo em uma mansão do Lago Sul de Brasília com os mais altos executivos da TAM e da GOL.
Foi fechado o seguinte acordo: o governo decretaria a liquidação extra-judicial da VARIG por meio de uma Medida Provisória (MP).
Menos de duas horas depois de editada a MP, venderia a parte sadia da VARIG por R$ 1 bilhão em dinheiro ao consórcio TAM-GOL.
A TAM ficaria com as linhas internacionais da VARIG. A GOL, com as internas e algumas para a América do Sul. A marca VARIG seria mantida.
Menos de 10% dos funcionários da VARIG perderiam os empregos. Parte do dinheiro pago pelo consórcio garantiria as indenizações dos demitidos.
A cobertura jurídica do negócio havia sido testada pelo Ministério da Justiça e a Casa Civil da presidência da República. E em consulta informal, o Supremo Tribunal Federal dera luz verde para que o negócio fosse feito.
A dívida da VARIG com o governo seria esquecida. E extintas na Justiça as ações da VARIG contra a União. Elas por elas – e a Varig no ar.
Deu no que deu
Mas aí Lula piscou primeiro e resolveu empurrar o problema com a barriga. Ele costuma proceder assim diante de problemas complicados. De resto, na época ele ainda apostava no PT.
Agora quer razoável distância dele.
Deu nisso que está aí.
Há quinze dias, Lula e a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff disseram que não haverá dinheiro do governo para impedir o desastre do fechamento da VARIG.
Na semana passada, a ministra deu a entender que o governo poderá fazer algo para que a VARIG siga voando.
A essa altura, o que ele fizer sairá mais caro do que há dois anos. E não alterará em nada a sorte do PT nas eleições de outubro.
Poderá ajudar Lula a conseguir mais alguns milhares de votos. Ou a não perdê-los.
Fonte: blog do Noblat em 23.04.2006
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