sábado, 22 de abril de 2006
Os últimos rounds
Não agüento mais escrever sobre as mesmas pessoas. Já vai fazer um ano que eu xingo, achincalho, enxovalho, avilto e fico horrorizado com as mesmas figurinhas manjadas. Sinto-me vetusto, reacionário, mal-humorado que já aperta a tecla F5 com medo do que vai ler nos blogs da vida, tamanha a quantidade de larápios e o volume de seus esbulhos.
Nunca vi tanto insulto, tanta diatribe, tanto escárnio. Não compreendo mais o sentido do poder quando ele é tratado como sinônimo de rapina. Não vejo serventia em honrar lideranças que hoje são chamadas por todos de ladrões, de mentirosos, de sacripantas. Não entendo a lógica de autorizar a tentativa de reeleição de um bando, a hipótese da prorrogação do tempo de uma quadrilha, a perspectiva da perenização de uma horda de facínoras que reciclou a desfaçatez tornando-a, mais do que um modelo de conduta, um cínico estilo de governar.
Isto está lembrando uma luta em que um dos contendores é duramente surrado, mas não cai. O sangue jorra de seu nariz, boca e supercílio, os olhos não se fixam em mais nada, mas ele não se dá por vencido e apanha, apanha e apanha. O juiz observa o massacre enquanto nós, telespectadores em compaixão, gritamos para a televisão “pára essa luta, pára pelo amor de Deus!”.
Mas os personagens não desaparecem. Mesmo os mais espezinhados como José Dirceu permanecem circulando pelo ringue como se não estivessem em frangalhos, derrotados. Palocci se esconde deprimido ou se deprime escondido. Não importa. Ele sabe que o gongo vai soar logo, sob forma de sirene de camburão, que o levará até um lugar humilhante e desconfortável onde ele terá que responder por seus golpes bem abaixo da linha da cintura.
A sádica oposição, a esta altura, já sabe que o nipônico amigo de Lula, aquele decasségui do Sebrae, possui contas bancárias extremamente convenientes, mas heterodoxas. Já se certificou de que ele é o calcanhar de Aquiles. Já sabe também que o filho de Lula não vai saber explicar direito nem os 5 e nem os 15 milhões.
No fim do embate, o lutador ensangüentado, ainda consegue levantar os braços. Ele é o único que ainda acredita em vitória. Está destruído, mas por não ter sido definitivamente nocauteado, por ter ficado de pé até o soar do sino do último round, ele tem certeza de que venceu. Se os juízes de uma luta de boxe forem tão amigáveis quanto muitos dos que exercem suas lidas nos tribunais brasileiros, bom, aí tudo é possível.
Ele perde. O perdedor, entretanto, tem direito a uma revanche e ele a pede. É concedida. Está marcada para 2010. Afinal, ele precisa de pelo menos quatro anos para descansar e pensar em todos os golpes baixos e em todos os golpes errados que desferiu. Vai ficar curando as feridas, lambendo as chagas, procurando outra equipe e principalmente outro “manager”.
Pensando bem, o tal lutador fazendo isso sai no lucro. Já pensou ter que voltar só em 2014 sem um treinozinho sequer na vida pública nacional?
Glauco Fonseca - jornalista
Fonte: www.cludiohumberto.com.br
sábado, abril 22, 2006
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