sábado, abril 22, 2006

Coisas de Amigos

Revista Veja 22.04.2006

Quanta coincidência!Castello Branco, sócio de uma agência, está em todo lugar onde antes estava Marcos Valério...O ex-sindicalista Paulo Okamotto, o amigão do presidente Lula, lançou há três semanas uma campanha publicitária dirigida aos pequenos e microempresários do país. A campanha é do Sebrae, uma entidade vinculada ao governo federal que é presidida por Okamotto desde janeiro de 2005. Neste ano, além da campanha que já está no ar, o Sebrae fará uma outra, a ser lançada agora em maio. Deverá gastar em torno de 30 milhões de reais em publicidade. Cerca de metade do dinheiro vai para o bolso de um publicitário que começa a chamar atenção em Brasília: Hiran Amazonas Castello Branco, sócio da Giacometti. Castello Branco cuida dos contatos de sua empresa com empresas públicas e, para cumprir sua missão, vive pelos corredores da burocracia federal em Brasília e conhece dirigentes de estatais. Sua agência já teve muitos negócios com a SMPB e outras empresas da constelação de Marcos Valério, o publicitário do mensalão. Marcos Valério e Castello Branco já foram sócios informais. Suas agências já funcionaram no mesmo endereço em Brasília, partilharam as mesmas equipes de profissionais da publicidade e até já participaram das mesmas licitações como se fossem cruéis concorrentes.
Devido a essa simbiose de negócios, Castello Branco assume o papel de sucessor informal de Marcos Valério, que foi abatido pelo escândalo do mensalão. Ele refuta as insinuações e manda dizer que só viu Marcos Valério uma vez na vida – numa visita que Valério fez ao escritório que a Giacometti compartilhava com a SMPB em Brasília. Por mal se conhecerem, só mesmo a coincidência explica o fato de que a Giacometti de Castello Branco vive trilhando o caminho aberto pela SMPB de Marcos Valério. Agora mesmo, ela disputa uma licitação para fazer as campanhas publicitárias da prefeitura de Osasco, uma conta de uns 5 milhões de reais. O prefeito de Osasco é o petista Emidio de Souza, ligadíssimo ao deputado João Paulo Cunha, aquele que mandou sua mulher sacar 50.000 reais do valerioduto – e contratou a SMPB para prestar serviços à Câmara dos Deputados no tempo em que presidiu a Casa. Aliás, numa outra coincidência, a Giacometti também participou da concorrência para pegar a conta da própria Câmara dos Deputados. Hoje, sabe-se que essa concorrência foi irregular, dirigida para dar vitória à SMPB. A Giacometti perdeu numa concorrência portanto desleal. Mas nem reclamou.Neste ano, o Sebrae de Paulo Okamotto renovou seu contrato com a Giacometti sem fazer uma nova licitação. Isso é permitido, até um prazo máximo de cinco anos, embora não seja o procedimento normal. O Sebrae não achou que deveria fazer nova concorrência, ainda que a Giacometti, durante as investigações da CPI dos Correios, tenha sido flagrada depositando dinheiro diretamente no valerioduto. Aconteceu o seguinte: a Giacometti era a titular da conta publicitária dos Correios, pela qual ganhou 9,7 milhões de reais. Desse total, a Giacometti depositou 6,7 milhões nas contas da SMPB. Foram 51 pagamentos para a agência de Marcos Valério ao longo de 2001 e 2004. Uma parte desse montante, 900.000 reais, foi enviada diretamente para a conta da SMPB no Banco Rural, em cujas agências era distribuído o mensalão aos assessores de parlamentares ou aos próprios parlamentares. Uma incrível coincidência: quando terminou o contrato da Giacometti com os Correios, abriu-se uma nova licitação. A Giacometti concorreu mas, dessa vez, foi derrotada. Por quem? Por ela mesma, a SMPB.Em outra concorrência, dessa vez para prestar serviço ao governo do Distrito Federal, as juras de amor trocadas pela Giacometti e pela SMPB eram tantas que os fiscais da licitação denunciaram que as duas agências estavam apenas simulando concorrência. Num relatório, apontaram que ambas atuavam em "conluio". Um dos indícios desse casamento clandestino era o fato de que quatro técnicos da Giacometti trabalharam na proposta da SMPB. É mais ou menos como se os técnicos da Ford fossem ajudar os técnicos da Volkswagen a desenvolver um novo carro – e isso num certame em que as duas montadoras estivessem disputando a mesma verba. A fraternidade entre a Giacometti e a SMPB, no entanto, tem sido infinda. As duas agências são tão amigas que até o acordo operacional, pelo qual partilhavam até o mesmo escritório, foi feito sem um contrato formal. Saiu tudo no fio do bigode.Com o estouro do escândalo do mensalão, a SMPB de Marcos Valério praticamente parou de operar. No ano passado, a SMPB estava tentando ganhar a conta da prefeitura de Osasco, quando o escândalo veio a público. A prefeitura cancelou a licitação e descobriu-se que o processo estava dirigido para a agência de Marcos Valério. Tão dirigido que até a tabela para reajuste, prevista no edital, não levava em conta os preços de Osasco ou de São Paulo, mas os de Minas Gerais – onde fica a sede da SMPB. Com a reabertura da licitação, a agência mineira, já enxovalhada pelo escândalo, não voltou a se inscrever. Agora, quem está tentando ocupar o imenso vazio deixado pela SMPB em Osasco é a Giacometti de Hiran Amazonas Castello Branco. É mera coincidência, é claro. Ah, uma outra coincidência: o funcionário da Giacometti que cuida da conta do Sebrae de Paulo Okamotto, aquela que renderá uns 15 milhões de reais neste ano, chama-se Rodrigo Capdeville. Antes de entrar para os quadros da Giacometti, Capdeville trabalhou por dez anos na SMPB.

Fonte:minutopolitico.blogspot.com

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