A oposição sumiu
Villas-Bôas Corrêa, nomínimo
(26/05/06)Ou a oposição entra em campo no segundo tempo disposta a virar o placar ou o campeonato está perdido.
>>>Das muitas intrigas entre aliados em polvorosa, com inflamadas declarações trocadas com o molho apimentado da ironia e das interpretações dos decifradores de índices o que sobra da recente pesquisa do Instituto Data-Folha é a evidência de que o presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva apronta na raia vazia como candidato único, há mais de três meses em tempo integral na caça ao voto do eleitor abandonado.O mais é conseqüência da excitação que contagia o PT de crista murcha com o envolvimento como principal beneficiário do escândalo em dose dupla da corrupção para o financiamento da última campanha eleitoral e dos seus filhotes na roubalheira das ambulâncias superfaturadas, nas falcatruas e denúncias de crimes em prefeituras sob o comando petista, que se rejubila com a esperada confirmação que deverá ser premiado com mais quatro anos aconchegado no cofre da Viúva.Entende-se e mesmo é fácil compreender a fossa em que mergulhou a oposição e o desabafo no sururu doméstico, com as feias acusações de traição, de corpo mole, de incompetência a riscar o ar como setas envenenadas. Os excitados aliados com os nervos tensos e a irritação à flor da pele não conseguem entender a mágica que sustenta Lula como favorito absoluto, enquanto o seu candidato, o ex-governador Geraldo Alckmin, parece colado ao solo, não consegue levantar vôo depois de dois meses de campanha modesta, tão sumida na mídia que parece clandestina.Fazendo as pazes com o bom senso e a lógica, comecemos pelas preliminares. Antes de catar as culpas alheias, a oposição deveria mirar-se no espelho e examinar as rugas da sua omissão. Com a óbvia ressalva dos poucos que se esbofam nas críticas ao favorito – como os senadores Artur Virgílio, Antonio Carlos Magalhães, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen e meia dúzia dos deputados – a oposição brilha pelo silêncio, atenta ao conselho da sabedoria popular que em boca fechada os insetos não penetram.E, para agravar os pecados da inércia interesseira de quem não quer correr o risco de pegar a condução errada e ir parar no fim da linha da derrota, poucas vezes um candidato ousou tanto como Lula na sistemática desobediência às restrições legais e aos princípios éticos. A praga da reeleição plantada pelo antecessor odiado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, adoçou a herança maldita com o privilégio de disputar o bis usando e abusando das facilidades da maquina administrativa.Quando cutucado, Lula bóia na desculpa que segue o exemplo do sociólogo ilustre, o que é truque de puro despiste. E que não o constrange como recordista na contramão da rota simulação, de comicidade debochada, de que não é candidato, cultiva as suas dúvidas com data marcada e programação pronta para o lançamento da candidatura em forrobodó na Praça dos Três Poderes, com o MST, a CUT, o PT garantindo a massa para a festança de arromba.Ocupada com as CPIs e o chorrilho de um novo escândalo a cada dia, a oposição esquece a campanha e o candidato. Por sua vez, o estilo do opositor, ex-governador Geraldo Alckmin é de quem prefere enfrentar a algazarra do otimismo com o toque abafado, em surdina, de discursos de sobremesa.Arrancar na reta decisiva como favorito, com altos índices de tendência de voto nas pesquisa, não é vantagem desprezível.Se a eleição não está decidida e costuma pregar peças nos vencedores de véspera, é evidente que o presidente-candidato tem faturado com esperteza as vantagens do cargo. E o seu carisma pessoal, a sólida liderança popular inflada com os êxitos de programas sociais, como o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo e as promessas de milagres adiados para o segundo mandato completam o perfil do candidato que a oposição tem todos os motivos para temer.A cuca fervilhando com as más notícias, prenuncia o pânico que dispersa os indecisos. Com estabanada reação ao primeiro susto, a aliança PSDB-PL demonstra a sua fragilidade e os problemas de definição do comando da campanha. Erros, hesitações nos acertos para a montagem da chapa com o senador pefelista José Jorge na vice-presidência só agora começam a ser enfrentados.E, para mal dos pecados, a candidatura do senador Pedro Simon, com o tamanho do buraco dos indecisos, desponta como extremamente sedutora para a banda do PMDB que defende o candidato próprio e promete agitar a Convenção do partido, controlada pela maioria governista, seduzida pelas promessas de Lula.Se a vantagem de Lula nas várias simulações escora o seu favoritismo, o índice de 27% de rejeição deve assustar o cordão da reeleição.A eleição não está decidida. Mas, ou a oposição entra em campo no segundo tempo disposta a virar o placar ou o campeonato está perdido.
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