O Grande Número do Desaparecimento
George Orwell – o único socialista honesto de que tive notícia – dizia que é preciso uma luta constante para ver aquilo que nos vai diante dos olhos. Nada mais exato, e nada mais perfeito para descrever o que se passa no Brasil hoje. E o que se passa é o seguinte:
Márcio Thomaz Bastos, Ministro da Justiça, confessou que teve um encontro secreto com Daniel Dantas, que o acusa, e a vários de seus companheiros de governo, de possuir contas em paraísos fiscais. Repita-se, a bem da clareza: Márcio Thomaz Bastos, Ministro da Justiça, confessou que teve um encontro secreto com Daniel Dantas, que o acusa, e a vários de seus companheiros de governo, de possuir contas em paraísos fiscais. Isso não é uma notícia: é uma bomba atômica. A rigor, essa notícia é mais importante que as que (ainda) envolvam o PCC. Porque, no fundo, os atentados do PCC não foram mais do que a repetição, concentrada, de um velho drama brasileiro: os bandidos deitam e rolam e a polícia não dá conta de pará-los. Já o encontro secreto de Márcio Thomaz Bastos com Daniel Dantas é, salvo melhor juízo, inédito na história do país. Ou vocês lembram de outro Ministro da Justiça que tenha tido encontros clandestinos com um sujeito suspeitíssimo que acaba de acusar o próprio Ministro e seus colegas de governo de falcatruas pesadas? Eu não lembro. Adiante.Qual a explicação de Márcio Thomaz para esse encontro nas sombras? Márcio disse que foi apenas receber uma carta em que Daniel Dantas dizia não ter nada a ver com a divulgação do dossiê publicado por Veja há uma semana – aquele que acusava o Ministro e outros grão-petistas de possuir contas secretas no exterior. Ora, em primeiro lugar, Márcio não precisava ter encontrado Dantas pessoalmente para receber a carta. Como ficou provado, não há mais do que três pessoas entre Bastos e Dantas (em termos de orkut, diríamos que MTB tem em sua lista de amigos as mesmas pessoas que estão na lista de amigos de Dantas, embora ambos não sejam amigos diretos). Em segundo lugar, se o objetivo da reunião tivesse sido esse, Márcio Thomaz teria convocado uma entrevista coletiva para espalhar aos quatro ventos que Veja mentiu. O evento daria belíssimas manchetes: “Dantas desmente Veja” etc. Ou seja: a versão de Márcio Thomaz Bastos não pára em pé. Não saberia dizer se a versão que Veja deu ao encontro – a de que o Ministro e banqueiro teriam combinado uma trégua – é certa. Sei que a de Márcio Thomaz Bastos é mais furada que peneira.Mas tem pior: Márcio Thomaz Bastos nos acha, a todos nós, cretinos de pai e mãe. É a conclusão que eu tiro desta declaração do insigne jurista: “Foi uma conversa. Não entendo porque tanta celeuma. O importante é que essas conversas sejam impessoais, transparentes e públicas. Não tratei de coisas que não podiam ser tratadas". Repita-se: “transparentes e públicas”. Pode?Pode, e ainda não acabou. Salvo os dois jornais paulistas, os dois canais especializados em notícia e os sites noticiosos da internet, a mídia (televisiva, sobretudo) virou as costas solenemente para esse fato. O Jornal Nacional, campeão de audiência, não dedicou uma vírgula de sua última edição ao assunto. O Jornal da Globo deu uns 30 segundos para a notícia, lá pelo fim da edição. Por outro lado, diga-se logo a verdade: boa parte do silêncio em torno do caso Daniel Dantas-Márcio Thomaz deve-se à covardia (covardia?) da oposição, conforme lembram, em Primeira Leitura, Reinaldo Azevedo e Liliana Pinheiro.Diante do exposto, sugiro que se mude o nome do país. Sugiro "Dantaslândia", onde o santo padroeiro da imprensa e da oposição será Harry Houdini.
Fonte:www.nemersonlavoura.blogspot.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário