- João Arnaldo da Silva, 40 anos. Um tiro na perna e um na cabeça.
- Rafael Erasmo da Silva, 20 anos. Um tiro na cabeça.
- Wagner Luís da Silva, 25 anos. Um tiro na perna e dois na cabeça.
- José Wedson da Silva, 20 anos. Um tiro na perna e dois no rosto.
Vocês lêem acima os nomes de quatro pessoas executadas pelo MST no dia 21 de fevereiro. Faziam a segurança de uma fazenda em São Joaquim do Monte, no agreste Pernambucano, reintegrada a seus legítimos donos por ordem judicial e de novo sob ameaça de invasão. Dois líderes do movimento foram presos. Outros dois ainda estão foragidos. Chocante é que Jaime Amorim, um dos chefões do MST, esteja solto. Referindo-se aos assassinatos, afirmou: “O que matamos não foram pessoas comuns. Eles foram contratados para matar, eram pessoas violentas”. Informa a VEJA desta semana que apenas um dos Silvas era segurança profissional – João Arnaldo. Rafael e Wagner eram mototaxistas, e José Wedson, agricultor.
A afirmação de Amorim diz quem ele é na forma e no conteúdo. Leiam lá: “O que matamos não era...” Este “o”, nem todos se dão conta, é um pronome demonstrativo, está no lugar de “aquilo”. Outro modo de expressar a moral de Amorim é este: “Aquilo que matamos...” Para o MST, gente que não serve à sua causa pode ser considerada “coisa”, um “aquilo”. O conteúdo não deixa dúvida: o movimento se comporta como tribunal, juiz e executor da pena. É a democracia deles.
E como é que Paulo Vannuchi, o secretário nacional de Direitos Humanos reagiu a essas mortes? Antes que reproduza a sua opinião, lembremo-nos que é o homem empenhado em rever a Lei da Anistia. Por senso de Justiça? Não! Tenho dito aqui que é por revanchismo mesmo. Estaria eu sendo muito severo? Segundo este senhor, o MST não pode ser criminalizado em razão das mortes. E ele tem a receita para tratar os valentes: “O movimento social tem que ser equacionado sempre com diálogo".
Vannuchi não me surpreende. A fala é digna de quem já serviu a uma organização, a Ação Libertadora Nacional, que tinha uma manual de terrorismo. Isso significa que o agora ministro, quando militante, endossava e seguia estas palavras:
“No Brasil, o número de ações violentas realizadas pelos guerrilheiros urbanos, incluindo mortes, explosões, capturas de armas, munições, e explosivos, assaltos a bancos e prisões, etc., é o suficientemente significativo como para não deixar dúvida em relação as verdadeiras intenções dos revolucionários.(...)
Esta é a razão pela qual o guerrilheiro urbano utiliza a luta e pela qual continua concentrando sua atividade no extermínio físico dos agentes da repressão, e a dedicar 24 horas do dia à expropriação dos exploradores da população.”
Como se pode ver com clareza meridiana, a cartilha moral que serviu a Vannuchi também serve a Amorim.
Protestos de ONGs, dos padres vermelhos, da OAB, CNBB e afins? Nada! Os Silvas serão enterrados, e não se ouvirá um pio. Na própria imprensa, daqui a pouco, já ninguém se lembra deles. No dia 15 de fevereiro de 2005 — LEIA ABAIXO O POST:xxx —, escrevi um longo artigo sobre um contraste e uma impostura: a morte de Dorothy Stang causou uma comoção na imprensa brasileira e mundial; quase ao mesmo tempo, membros do MST mataram um policial. Também era um "Silva". Também em Pernambuco. Fez-se, então, um silêncio de morte. Quatro anos depois, o que mudou? Bem, agora, ao menos, Jaime Amorim admite a existência de seus tribunais de exceção e execucação.
Para esses assassinos, Vannuchi recomenda diálogo.