sexta-feira, dezembro 08, 2006

Sebastião Nery

A nova classe na Petrobrás
Sebastião Nery

Eles eram três: Tito, Kardelj e Djilas. Quando Hitler, em 41, invadiu a Croácia, Eslovênia, Bósnia, Sérvia, Montenegro, toda a bela costa iugoslava do Adriático, Josip Broz Tito, Edvard Kardelj e Milovan Djilas eram dirigentes dos clandestinos Partidos Comunistas da Croácia, Eslovênia e Montenegro. Já tinham sido presos vários anos na década de 30. Juntaram-se no Comitê Nacional de Libertação, sob a presidência de Tito e a vice-presidencia de Kardelj e Djilas, criaram o mais poderoso movimento de resistência antinazista e antifascista da Europa.A Alemanha e a Itália chegaram a mandar para lá 600 mil soldados. Um milhão e 700 mil iugoslavos morreram. Mas, em outubro de 44, quando as tropas soviéticas chegaram a Belgrado, Hitler já estava derrotado e a Iugoslávia independente.E nasceu a República Iugoslava, uma federação de seis repúblicas, sob a presidência do marechal Tito. Kardelj, ministro do Exterior e representante na ONU. Djilas, presidente da Assembléia Federal.

Djilas
Em 48, inconformada com a independência da Iugoslávia, a União Soviética rompe e faz um bloqueio de longos anos e só em maio de 55, Stalin morto, Kruschev e Bulganin visitam Tito em Belgrado e Tito vai a Moscou. Mas Djilas queria mais.Intelectual, escritor consagrado, em 1953 começou a divergir de Tito sobre questões da organização do Estado. Em 54 é expulso do Partido Comunista e tenta fundar o Partido Socialista Democrático. Em 57, publica em Paris (e depois no mundo todo) seu livro-bomba, "A nova classe", uma crítica devastadora da burocracia comunista e uma denúncia profética do aparelhamento do Estado pelas lideranças sindicais da esquerda.Processado e condenado, ficou preso de 59 a 61. Sai e publica em Roma "Conversações com Stalin" (1962). Volta para a cadeia, até 66. Sai de novo, publica "A sociedade imperfeita além da nova classe".Não é mais preso.Em 73 o visitei lá, quando preparava meu livro "Socialismo com liberdade".A FUP Se tivesse conhecido o governo Lula, o bravo, valente Djilas teria feito mais um arrasador capítulo sobre como "A nova classe" usa o governo em benefício próprio e da sua curriola.Aqui em São Paulo, conheci detalhes de mais um escândalo, que pode virar um crime, de usufruto do poder.Na Petrobras, a FUP - Federação Única dos Petroleiros (uma fraude, porque legalmente não é federação e não é única), filha da CUT (que também é uma fraude, porque não é única), propôs e a direção da empresa quer adotar a redução salarial dos aposentados, que iria liquidar a geração que há 53 anos a construiu em condições duras, às vezes heróicas, bem diferentes das de hoje.

A proposta da FUP e da empresa é um verdadeiro "confisco de renda".
AposentadosO reajuste anual dos salários, a ser feito pela empresa, seria assim:a) Para os funcionários da ativa, 2,8% de aumento, mais 80% de bonificação salarial e promoção de uma letra na carreira.b) Para os aposentados, apenas 2,8%."Nunca antes na história dessa empresa", como diria um certo alguém, aconteceu tamanha violência contra os seus milhares de aposentados.A "nova classe" de sindicalistas petistas, agregada na FUP, que dirige o setor de Recursos Humanos (através do multinacional Diego Hernandez), massacra os aposentados para ganhar 80% de "bonificação" e uma letra a mais na carreira.São mais de 50 mil aposentados atingidos pela absurda proposta. O objetivo claro e vil é jogar os funcionários da ativa contra os aposentados.

A FNP
Mas o tiro está saindo pela culatra. Cinco grandes sindicatos já se desfiliaram da FUP (e portanto da CUT):1) Rio de Janeiro.2) Litoral Paulista - Santos.3) Sergipe - Alagoas.4) Pará - Amazonas.5) São José dos Campos.Esses sindicatos não só se separaram da FUP como já criaram a FNP (Frente Nacional dos Petroleiros). Sexta, depois de amanhã, aqui em São Paulo, em Santos, a FNP e esses sindicatos vão reunir-se para aprovar uma posição comum contra a proposta da FUP e do Recursos Humanos da Petrobras.

PT-ONGs

Vejam que estranha coincidência.Na hora em que a "nova classe" dos sindicalistas do PT tenta pôr ainda mais a empresa a serviço de seus interesses pessoais, e para isso propõe o obsceno confisco dos direitos dos aposentados, explodem nas manchetes dos jornais os escândalos germinados exatamente no "bunker" da "nova classe", a diretoria de Recursos Humanos:1 - "O Globo": "Petrobrás faz, sem solicitação, convênio de R$ 228 milhões -Beneficiadas doaram R$ 16,7 milhões na eleição, sendo R$ 6,4 milhões ao PT e PC do B - Nunca como no governo Lula a Petrobras foi tão usada como aparelho partidário e instrumento de propaganda e sustentação de um governo.Houve farta distribuição de recursos para ONGs, projetos de aliados ou eventos de apadrinhados, antecedendo a campanha eleitoral".2 - "Folha": "Fornecedores da Petrobras doaram R$ 2 milhões ao PT.Valor doado ao PT pela UTC representa 88% do total destinado por ela a campanhas eleitorais". Vai estourar tudo na "CPI das ONGs", no Senado.

Fonte: minuto político

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