segunda-feira, dezembro 18, 2006

Lula II e Mercado 01

19/12/2006
As angústias do mercado com o pacote de Lula

Sai nesta semana, muito provavelmente na quinta-feira, o pacote de medidas econômicas do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aquelas prometidas pelo petista para destravar o crescimento da economia brasileira a partir de 2007. O anúncio vai acontecer quase 40 dias depois de terem sido encomendadas por Lula.

Segundo analistas de mercado, o governo pode ter perdido tempo e muito capital político discutindo um pacote que nem deveria ter sido anunciado como tal. Afinal, a avaliação do mercado é que o debate das propostas nesse período trouxe mais inquietação do que certezas sobre o que será o segundo mandato de Lula.

Logo após a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a avaliação comum no mercado financeiro era que, tudo bem, não haveria um novo ciclo de reformas. Nada de mudanças profundas na Previdência Social e na legislação trabalhista, mas, em compensação, não haveria nenhuma loucura na economia. Tudo seguiria normalmente, o BC cortando os juros gradualmente, o superávit primário mantido em 4,25% do PIB, a gastança do ano eleitoral seria estancada e o país cresceria mais em 2007.

Aí, Lula, frustrado com o medíocre crescimento da economia previsto para este ano e com mais quatro anos de mandato pela frente, passou a chicotear sua equipe exigindo medidas para garantir uma alta de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano.

O humor dos analistas de mercado começou, então, a mudar levemente. Tudo bem, ficou claro para os economistas de bancos nacionais e estrangeiros que realmente não teríamos um novo ciclo de reformas, mas já não dava mais para assegurar que não viria nenhuma loucura.

Começou, em seguida, a profusão de idéias da equipe econômica e dos ministros de infra-estrutura. A cada dia uma nova medida era divulgada na imprensa. A sensação transmitida por alguns membros do governo foi a de que iriam prevalecer propostas que implicam aumento de gastos e perda de receitas. As de corte seriam bem tímidas, nada de idéias amargas para estragar o final de ano de alguns setores.

A ansiedade do mercado só aumentou. O sinal nas mesas de operação é de alerta. Acabou-se criando uma expectativa sobre as medidas a serem divulgadas na quinta que pode, no médio prazo, gerar pequenas turbulências. Nada, a princípio, que provoque tempestades. Não há, no momento, clima para isso. Mas pode estar sendo gestada uma crise para o final do próximo ano.

Apesar das sinalizações negativas emitidas pelo próprio governo, o fato é que o presidente está sendo auxiliado hoje por dois fatores nesse final de ano. Lula ainda tem muito crédito no mercado. A leitura é que foi ele quem bancou a política de responsabilidade fiscal durante todo o primeiro mandato. E o cenário externo é bom, não há previsão de solavancos no mercado internacional. Daí que o fluxo de recursos em direção ao Brasil tende a se manter positivo.

Mesmo que o pacote frustre as expectativas, demonstrando pouca harmonia entre medidas voltadas para o desenvolvimento e as de contenção de gastos, a tendência é que, no curto prazo, as tensões sejam amenizadas e, de certa forma, até relevadas.

O governo pode até reduzir um pouco o superávit primário, deixando que ele fique levemente abaixo dos 4,25% do PIB. Em contrapartida, porém, precisa sinalizar que vai realmente conter a alta dos gastos públicos, evitando que eles cresçam mais do que a variação do PIB. Agindo assim, Lula fará com que o mercado continue acreditando em seu compromisso com a responsabilidade fiscal. Terá, com isso, conseguido vender o que seus ministros devem anunciar nessa semana: um programa de desenvolvimento em harmonia com a austeridade fiscal.

Agora, se o anúncio fizer mais parte de uma peça publicitária e o governo acelerar seus gastos, a ansiedade do mercado, hoje totalmente inofensiva, só vai crescer e provocar muita tensão, perdas e mudar a curva de muita coisa: juros e inflação, em queda, podem voltar a subir.

Ansiedade ministerial

Por falar em ansiedade, a maior está em Brasília, localizada na Esplanada dos Ministérios. Lula ainda não confirmou oficialmente ninguém para o segundo mandato. Apesar de alguns já terem ouvido de sua boca que estarão na equipe no próximo ano, muitos ministros ainda não sabem o que farão em 2007. Sem falar naqueles que estão sonhando com uma convocação, mas ainda aguardam um chamado do Palácio do Planalto. No PMDB, por exemplo, as negociações ainda não começaram.

Lula parece inclinado a deixar tudo, ou pelo menos boa parte, para depois do Natal. No caso da equipe econômica, porém, nada deve mudar. Afinal, não tem muito sentido deixar um grupo de ministros montar um plano para, em seguida, demiti-los e nomear novos integrantes para Fazenda e Planejamento.

Valdo Cruz

Fonte: folha online

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