segunda-feira, dezembro 18, 2006

Josias de Souza


De onde veio o dinheiro?

Enquanto aguardam por uma resposta da Polícia Federal, os 22 leitores do blog podem fazer um passeio –virtual ou de corpo presente— ao Museu do Dinheiro do Banco Central. Não há ali nenhuma pista sobre a origem da grana manuseada pelos "aloprados" do dossiê. Mas há um farto material acerca da procedência do dinheiro no mundo e no Brasil.
Fica-se sabendo, por exemplo, que, nos primórdios do Brasil colonial, o meio circulante brasileiro foi constituído aleatoriamente. Havia moedas de nacionalidades diversas. Eram trazidas pelos portugueses, por invasores e pelos piratas que singravam a costa brasileira. Nos primeiros séculos que se seguiram à chegada de Cabral, o Brasil era a terra do escambo.
Como a moeda era escassa, mercadorias faziam as vezes de dinheiro nas transações comerciais. Pagava-se com açúcar, algodão, fumo, ferro, cacau, cravo, etc. Só em 1694 inaugurou-se, na Bahia, a primeira casa da moeda brasileira. Moedas de ouro e prata de procedências variadas foram derretidas e transformadas em moedas provinciais.
Entre as peças expostas no museu do BC há uma galeria de cédulas. É curioso notar o massacre a que foram submetidas várias celebridades por conta da superinflação, de triste memória. A pretexto de venerar a memória de brasileiros ilustres, o Banco Central estampava-lhes as efígies nas cédulas.
Arrancado do túmulo, o sujeito era lançado no mercado com um determinado valor e, no minuto seguinte, enredava-se numa ciranda que o corroía até a morte. Humilhado, era substituído por uma cara nova e devolvido ao pó.

A última vítima do massacre metafórico foi o educador Anísio Teixeira, que ilustrou a nota de mil numa fase em que o dinheiro chamava-se cruzeiro real. Foram tantos os constrangimentos que se optou por interromper a série de ''assassinatos'' patrocinados pelo BC.

Passou-se a imprimir nas notas a imagem de personagens cujas famílias são menos suscetíveis –o beija-flor, a garça, a arara e a onça, por exemplo. Lançado em 94, o real interrompeu a fase de desmoralização monetária. O passeio pela galeria de cédulas constitui excelente passa-tempo. Convém ir devagar. Com mais tempo, quem sabe a PF não responde à fatídica pergunta: De onde veio o dinheiro?


Fonte: folha online

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