terça-feira, dezembro 20, 2011

Dilma encontra repórteres num café com pão e ilusão- 16/12/2011

Um inquilino do Palácio do Planalto precisa de poses. Cada frase, cada gesto de um presidente da República é uma pose.

Nesta sexta (16), Dilma Rousseff fez poses para os repórteres que realizam a cobertura cotidiana da Presidência.
O encontro, um café da manhã, resultou em mais de uma hora de poses. Ao final, produziu-se um quadro plático.
No centro, uma presidente da República imbuída do pior tipo de ilusão: a ilusão de que preside.
Dilma disse que doravante não aceitará a ingerência de partidos nos ministérios. “Vale para qualquer partido”, ela disse. Acrescentou:
“Uma coisa é a governabilidade, é importante que o partido indique nomes. A partir da indicação, [o indicado] presta contas ao governo e a mais ninguém.” Pose.
Num sistema em que coalizão virou cooptação, quem indica não deseja senão extrair do indicado todas as vantagens que o cargo for capaz de prover.
Se a história recente ensina alguma coisa, é a não esperar qualquer tipo de hesitação altruísta dos políticos governistas.
O modelo avança e recua segundo as suas conveniências. A moral subordina-se ao re$ultado. Dilma joga esse jogo desde janeiro. Perdeu a chance de mudar.
Dilma declarou que seu governo é de “tolerância zero” com malfeitos. Mas ponderou:
"Eu não posso sair por aí apedrejando as pessoas e fazendo julgamento sem direito de defesa. […] Não tolerar malfeito de um lado, mas não vou criar caça às bruxas." Pose.
No ano inaugural, Dilma perdeu sete ministros, seis deles por suspeitas de corrupção. A debandada ocorreu em reação às manchetes, não por ação da presidente.
Dilma, alias, soou como se preferisse uma imprensa mais bem comportada. “Parece que existem dois Brasis”, disse.
O Brasil oficial lança programas, produz boas notícias. O país do noticiário concentra-se na roubalheira. "Obviamente que escândalo vende mais jornal", queixou-se.
Dilma chegou mesmo a lamentar o excesso de escalpos. Disse que alguns dos que saíram eram “muito capazes”.
Quer dizer: não fosse pelas manchetes, a alegada “tolerância zero” seria uma pantomima explícita. Malfeitores “muito capazes” continuariam na Esplanada.
Dilma perdeu a pose quando instada a comentar o caso de Fernando Pimentel. Reiterou o apoio ao ministro-amigo.
E quanto às consultorias suspeitas? "Não tem nada do meu governo." Beleza. Dilma termina por adotar um conceito muito usado no Congresso.
No Legislativo, ninguém é cassado por delitos cometidos antes do início do mandato. Como se a idoneidade tivesse prazo de validade.
Recordou-se a Dilma que, ressalvados os valores, o caso de Pimentel assemelha-se ao de Antonio Palocci.
E ela: "Mas o Palocci quis sair." Ou seja, a despeito de ter virado um chefe da Casa Civil inaceitável, Palocci ainda estaria no Planalto se quisesse.
Vai aproveitar a reforma ministerial para reduzir o número de ministérios? Não, não. Absolutamente.
"Não me venham com essa conversa. Não terá redução de ministérios, não é isso que faz a diferença no governo…"
“…A eficácia de um governo vai se dar quando conseguirmos mudar certas práticas de governança.” Pose.
Nenhuma prática de governança torna aceitável o que é inexplicável. Ministério da Pesca, dos Portos, das Raças, das Mulheres… Ora, francamente!
Sob o lero-lero da “eficácia” esconde-se a falta de condições de arrostar as pressões dos partidos que controlam os puxadinhos desnecessários. A começar do PT. Ponto.
Na economia, Dilma soou otimista. A crise internacional, ela admite, é grave. Mas o Brasil a economia brasileira ainda pode crescer 5% em 2012, acredita.
"O meu [cenário] é otimista. Crescimento de 4,5% a 5%. Minha meta é de 5%, de toda a área econômica também." Pose.
Dilma faz as vezes de animadora de auditório. É o papel que lhe resta no enredo eletrificado por uma crise externa cuja resolução independe de sua vontade.
Mas a presidente não ignora: só vai conseguir entregar um PIB ao redor dos 3,5% no ano para que vem se a Europa e os EUA pararem de penetrar o caos.
Os repórteres levaram à mesa a dura realidade: a corrupção, os aliados vorazes, a dúvida Pimentel, a ameaça econômica…
Dilma serviu-lhes café, pão e ilusão. Foi como se dissesse: Fora tudo isso, a coisa caminha bem.
Fonte: Blog do Josias de Souza- folha online

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