sábado, novembro 15, 2008

Eliane Cantanhêde

12/11/2008
O castigo não vem a cavalo

Primeiro, o socorro de trilhões de dólares e euros para os bancos. Agora, a corrida para salvar empresas pelo mundo afora.
O principal alvo são as montadoras de automóveis, que tiveram um boom lá fora e principalmente aqui dentro do Brasil e agora estão com muito estoque no pátio e um medão danado de não ter compradores na mesma proporção.
Quem abre os jornais se depara com uma enxurrada de anúncios de carros, desde as primeiras até as últimas páginas. Praticamente nenhuma editoria passa incólume. E, se no início a propaganda era em cima da qualidade do veículo, agora já é sobre as vantagens do financiamento. Juros zero!
Nos EUA, o republicano Bush e o democrata Obama desenham uma aliança para salvar as montadoras, especialmente a GM, que está mal das pernas --ou melhor, das rodas. Já se fala até --quem diria?!-- em estatizar parte das empresas. O castigo para a ganância do capitalismo sem freios, portanto, não vem a cavalo. Vem a mais de 100 km/h, sobre rodas.
Em São Paulo, o tucano José Serra e o petista Guido Mantega repetem democratas e republicanos e também "somam esforços", nas palavras do governador, para liberar uma linha de crédito de R$ 4 bilhões para financiar a compra de veículos de todo o país. É o mesmo valor que o governo federal botou na praça na semana passada para tentar segurar o efeito da crise financeira na chamada "vida real", ou seja, no setor produtivo, que é o que gera emprego, renda e voto.
Em Minas, Aécio Neves não corre atrás de Serra apenas pela indicação do PSDB para disputar a Presidência em 2010. No mesmo dia do paulista, a última terça-feira, o mineiro colocou R$ 470 milhões à disposição de empréstimos para as empresas, enquanto simultaneamente ampliava o prazo para pagamento de impostos. No alvo, também a construção civil, outro setor que pode desabar.
A crise começou com a inadimplência do setor de imóveis nos EUA, atingiu em cheio os bancos, varou fronteiras e está chegando à economia mundial. É aquela onde se situam as pessoas que produzem, comem, moram, vestem e criam seus filhos para a posteridade. E é aí, portanto, que mora todo o perigo.

Fonte: folha online

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