sexta-feira, novembro 21, 2008

Diogo Mainardi

Kaká contra Protógenes Queiroz

A viagem de Lula à Itália caducou. Ocorreu mais de uma semana atrás. Além disso, Lula já faz parte do passado, como Café Filho. De agora em diante, até o fim do mandato, sua única meta será tentar se acertar com o futuro governo, para que ninguém o amole com assuntos aborrecidos, como seus gastos com cartões de crédito em viagens internacionais. Mas a passagem festiva de Lula pela Itália ajudou a retratar o Brasil, e por isso merece um comentariozinho.
Ao desembarcar em Roma, no aeroporto de Ciampino, Lula foi oficialmente recebido, em nome do governo italiano, por Mara Carfagna, a ministra das Oportunidades Iguais, cargo que corresponde, no Brasil, ao de secretária das Mulheres. É como se o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, fosse recebido em Brasília por Nilcéa Freire.
Sei lá se o episódio foi noticiado pela Radiobrás e pela TV Brasil, que mandaram correspondentes com a comitiva de Lula, mas o resto da imprensa brasileira relatou que Silvio Berlusconi foi duramente criticado por essa escolha. O principal partido de esquerda da Itália, o Partido Democrático, soltou a seguinte nota: "É inaceitável que o líder do maior país da América Latina não tenha sido recebido pelo ministro das Relações Exteriores ou qualquer outro ministro do mesmo nível".
Na cobertura dos fatos, só ficou faltando o essencial: um perfil iconográfico de Mara Carfagna. O Youtube está cheio de imagens dela. Dei uma espiada rapidinha e o mais completo me pareceu este aqui, com acompanhamento musical tipicamente italiano. Isso mesmo: o hip-hop é mais tipicamente italiano do que a tarantella. A Itália só tem cantor de hip-hop.
Num momento em que Lula fazia de tudo para aumentar seu cacife internacional, à véspera do encontro do G-20, Silvio Berlusconi, com sua característica fanfarronice, involuntariamente reduziu o presidente brasileiro ao seu aspecto mais desimportante, mais circense, mais espalhafatoso, mais retrógrado, mais bananeiro.
Silvio Berlusconi fez mais do que isso: organizou um encontro de Lula com os jogadores brasileiros de seu time, o Milan. Em seguida, declarou que um desses jogadores, Kaká, quando parar de jogar bola, pretende seguir a carreira política. Já dá para antecipar a disputa presidencial de 2020. De um lado, Kaká, guiado pela bispa Sonia e por Zé Maria. Do outro lado, o delegado Protógenes Queiroz, guiado pelo bando da banda larga, formado pelos jornalistas pernas-de-pau que foram expulsos da grande imprensa e agora ganham uns trocados na várzea da internet. O novo presidente terá o privilégio de ser recebido na Itália por um representante de terceiro escalão da primeira-ministra Mara Carfagna.


Fonte: veja online

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