sábado, agosto 27, 2011

Cuba e a resistência psicológica

02/08/2011
CARACAS

Raúl Castro, que completou cinco anos no poder em Cuba neste mês, encerrou na segunda-feira a sessão da Assembleia Nacional do país com um discurso curto, pontuado por autocrítica e uma advertência: “toda resistência burocrática” às reformas econômicas aprovadas “será inútil”.
Raúl insistiu que o maior obstáculo às mudanças é “a barreira psicológica formada pela inércia, pelo imobilismo, pela simulação ou falsa moral, a indiferença e a insensibilidade”.
O texto lido pelo irmão mais velho de Fidel Castro também cobra tolerância religiosa do Partido Comunista (PC), comentando a demissão de uma funcionária por “ir alguns domingos ao culto da igreja”.
Mas voltemos à ênfase de Raúl à “barreira psicológica”.
Antes dela, as reformas, consideradas pontuais, têm entraves práticos. Por exemplo, no caso do incentivo dos pequenos negócios privados: falta de capital para aplicar na nova pequena economia privada que eles querem fazer emergir, alguns controles e obrigações que afetam a demanda desencorajam os empreendedores...
Mas também há mudanças pouco palatáveis, que podem significar para muitos perda de cotas de poder, e talvez esse seja um ponto referido por Raúl ao falar de “resistência burocrática”.
Um exemplo é a demissão massiva de 500 mil funcionários públicos que o governo desejaria já haver feito até abril desse ano. A meta teve de ser revisada e o próprio Raúl disse em abril que o plano será gradual.
Para analistas, a resistência pelas demissões é tanto por perder os cerca de U$ 20 do salário médio quanto o acesso aos bens produzidos nas empresas públicas, que alimentam o mercado negro.
O equilíbrio precário da frágil economia e da sociedade cubanas em boa parte de assenta nesse sistema estruturado em várias camadas de irregularidades, negócios ilegais e vigilância mútua.
Como disse a especialista americana Julia Sweig, do Council on Foreign Relations, em entrevista à Folha em 2008, esse não é um desafio menor.
“Para sobreviver as pessoas têm de roubar dos locais de trabalho, comprar no mercado negro, e com o tempo há um efeito incrivelmente corrosivo. As pessoas são obrigadas a mentir e dissimular e fazer um monte de coisas terrivelmente negativas para a sociedade. Todo mundo reconhece isso. Quando a sociedade cubana será uma sociedade mais reconhecível, na qual há mais transparência e prestação de contas e as pessoas não precisam se engajar em atividades ilegais para sobreviver? Eu não sei, talvez em 20, 50 anos. É uma grande questão sociológica”

Fonte: blog Pelo Mundo-folha online

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