sábado, outubro 01, 2011

Por andará Adrian Lyne

Tirei essa lembrança do fundo do baú, lendo a entrevista de Claude Lanzmann à “Folha”, nesta quinta-feira. O diretor do documentário “Shoah” é aguardado no Brasil em julho para participar da Flip. Será a sua segunda visita ao país. A primeira, contou ele na entrevista, foi um desastre.

Deu-se em 1985 ou 1986, ele não se lembra bem. Lanzmann veio participar do Fest-Rio, um festival de cinema que ocorria no Hotel Nacional, fechado desde 1995, em São Conrado. O cineasta odiou o bairro (“um acordo tinha sido feito com a favela vizinha para que não houvesse violência”), o hotel (“era um prédio tipo torre, de Niemeyer, que é um criminoso”) e a cidade (“dormi na praia e fui assaltado por um menino que correu e eu não consegui agarrar”).

Participei da cobertura de dois Fest-Rio, em 1986 e 1987. Minhas lembranças são as melhores possíveis. Era um festival divertido, com programação de qualidade, fácil acesso aos diretores, num cenário tipicamente carioca – o hotel projetado por Niemeyer, com vista para o mar, para a mata ou para a favela, muitas festas na piscina movimentada, gente de todo tipo.
Adrian Lyne foi um dos diretores convidados em 1987. Veio apresentar “Atração Fatal”, um drama sobre adultério estrelado por Michael Douglas e Glenn Close. O cineasta era conhecido especialmente por “Flashdance”, de 1983, um de seus maiores sucessos, e por “Nove e Meia Semanas de Amor”, com Mickey Rourke e Kim Basinger, lançado em 1986.
Este último foi um fracasso retumbante nos Estados Unidos, mas foi bem no Brasil. Quando Lyne chegou ao Rio para exibir “Atração Fatal”, seu filme anterior contabilizava 76 semanas em cartaz numa sala no Cine Belas Artes, em São Paulo.
Lyne me recebeu numa suíte no 21º andar do Hotel Nacional, com vista magnífica para o mar. Ele então fez uma autocrítica sobre “Flashdance” (“É uma história estúpida, mas pensei que poderia torná-la bonita”) e sobre “Nove e Meia Semanas” (“Gosto de algumas partes, mas acho que filmei de forma estilizada”). Também falou sobre “Atração Fatal”, que já estava fazendo muito sucesso nos Estados Unidos, mas sem muito entusiasmo (“É uma boa história, que todo mundo compreende”).
O melhor ficou para o final. Perguntei sobre cinema brasileiro. E Adrian Lyne, então, falou do seu encantamento por “Eu Te Amo”, de Arnaldo Jabor, de 1980. Contou que, ao ver Sonia Braga em cena, imediatamente pensou na atriz brasileira para protagonizar “Nove e Meia Semanas de Amor”.

Lyne disse que telefonou para Sonia e conversaram bastante. Ele se deu conta, segundo seu relato, que o inglês da atriz não era bom o suficiente, na ocasião, para encarar Mickey Rourke em cena. O papel então, disse, ficou com Kim Basinger.
Assim que saí da entrevista, no hall do Hotel Nacional, dei de cara com Arnaldo Jabor. Relatei a minha conversa com Lyne e ouvi dele uma outra versão da história. Segundo Jabor, o cineasta americano havia convidado Sonia Braga para o papel, mas ela o recusou, por considerar o filme “muito erótico”. Além do mais, disse, “o filme do Lyne plagiou a cenografia de ‘Eu Te Amo’”. Propus a Jabor um encontro com Lyne, mas o brasileiro não se interessou: “Não quero falar com esse cara”.

Relembrando esta história, fui pesquisar sobre Adrian Lyne. Depois de “Atração Fatal”, ele fez ainda “Alucinações do Passado” (1990), o bem-sucedido “Proposta Indecente” (1993), com Robert Redford e Demi Moore, “Lolita” (1997), com Jeremy Irons, e “Infidelidade” (2002).
Desde então, está sumido. Segundo um site não-oficial dedicado ao cineasta, Lyne vive no sul da França, com a sua família, e eventualmente dirige comerciais para a TV. Segundo o jornal “Variety”, Lyne planeja voltar ao cinema em 2012, com uma adaptação do romance “Black Roads”, de Tawni O’Dell.
Em tempo: O jornalista Vilmar Ledesma me enviou o link de uma entrevista de Sonia Braga a uma revista de Portugal, realizada muitos anos depois, em que ela confirmou a versão de Adrian Lyne para o episódio que relatei em 1987. Disse ela:

“Todo ator busca o sucesso. É claro que eu gostaria de ter feito algo que “orgulhasse o nosso povo” (empolando a voz). Em 9 1/2 Semanas de Amor [Nove Semanas e Meia] eu poderia ter feito o papel que ficou com Kim Basinger. O diretor (Adrian Lyne) me ligou nas filmagens de O Beijo da Mulher Aranha, mas eu não consegui me comunicar com ele. Na época, eu confundia “está pronto” (it’s ready) com a cor vermelha (red). Provavelmente ele tinha um script para me mandar, mas eu devo ter perguntado se o roteiro estava vermelho (risos)
Fomnte: uol.bcom.br- Blog do Mauricio Stycer-24/02/2011

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