sexta-feira, junho 29, 2007

Últimas novidades sobre o tour-de-farsa brasiliense

- Bumba-meu-boi: segue no Senado aquele bailado impopular de cunho cômico-dramático. Como se sabe, a dança foi organizada para divertir a platéia enquanto os senadores de presépio procuram uma maneira de enterrar vivo o escândalo que devora Renan Calheiros (PMDB-AL). Nesta quinta (28), Renato Casagrande (PSB-ES) topou assumir a relatoria do caso. Impôs, porém, uma condição: quer liberdade para escarafunchar os negócios bovinos de Renan. Lero vai, lero vem, a tropa de Renan torceu o nariz. E o convite feito a Casagrande na véspera subiu no telhado. Voltou a circular a tese do grupo suprapartidário de três relatores. Grupo “independente”, obviamente. Com gente da oposição. Quem? Ora, ele: o senador Romeu “Quero Absolver” Tuma (DEM-SP). Menos de 24 horas depois de ter sido eleito para “resgatar” a credibilidade do Conselho de (Falta de) Ética, o substituto de Sibá Machado, o “presidente” Leomar Quintanilha (PMDB-TO), já está sendo presidido pelo grupo de Renan.

Boi-bumbá: depois de vagar pelo noticiário por seis dias, o boi Roriz entrou na roda-viva em que giram os mandatos sob suspeição. Como prometera, o PSOL protocolou na Mesa Diretora do Senado, presidida pelo réu Renan, uma representação contra o ex-governador do Distrito Federal. O caso será levado ao mesmo Conselho de (Falta de) Ética. "São denúncias gravíssimas”, diz Heloisa Helena (AL), presidente do PSOL. “Só enriquece em política quem é ladrão. Não existe fórmula que leve alguém com salário a enriquecer. E se estão apresentado fórmulas mágicas para justificar o enriquecimento, têm que ser investigadas." De fato, as suspeitas contra Joaquim Roriz são cada vez mais graves. Tão graves que, neste caso, Romeu não quer absolver. Tuma diz que os indícios de quebra de decoro parlamentar são claros.

Pisando em ovos: como que sentindo o bafo da crise roçar-lhe a nuca, Lula esboçou nesta quinta um suporte retórico a Renan Calheiros (aqui e aqui). Deu-se na cerimônia de posse do procurador–geral da República Antonio Fernando de Souza, reacomodado no comando do Ministério Público por mais dois anos. O réu Renan estava presente. Sem mencionar-lhe o nome, Lula disse: "Eu sempre parto do pressuposto de que a democracia garante que todos são inocentes até prova em contrário. Todos precisam ter um julgamento feito com a maior lisura possível para que não se cometa nenhum erro de omissão e nenhum erro de exagero em qualquer uma das nossas instituições." O presidente completou: "Não há nada pior para democracia que é alguém ser condenado, sem ter cometido crime. É tão grave quanto alguém ser absolvido e ter tido cometido crime." Disse mais: "Daí o ponto de equilíbrio, o equilíbrio da Justiça, de fazer a boa e sensata investigação, doa a quem doer, mas ao mesmo tempo tendo consciência de que dos 190 milhões de brasileiros, do mais humilde que vive no anonimato até um presidente da República, todos têm que ter a chance de provar a sua inocência antes de serem condenados." Lula tem razão. O problema é que, diferentemente do o brasileiro humilde, certos senadores acham-se no direito de impedir a verificação da autenticidade das supostas provas em contrário. São “investigados” por colegas que pisam em ovos. Os ovos do povo.

- O cerco: na falta de uma oposição mais vigorosa, alguns pequenos partidos tentam fazer no presente o que o ex-PT fazia no passado. O PPS foi ao STF para pedir que Renan Calheiros faça por pressão o que evita fazer por obrigação. Em mandado de segurança impetrado nesta quinta, o partido pede que o Supremo obrigue Renan a convocar sessões do Congresso Nacional. Alega que há na fila nada menos que 881 vetos de Lula por votar. Simultaneamente, o PSOL lança a campanha "Basta de Corrupção, Fora Renan". Tenta-se estimular a sociedade a participar da cruzada pela limpeza do Congresso. O esquadrão de defesa de Renan faz ouvidos moucos para a gritaria. Argumenta-se que isso passa. Uma boiada desembestada também passa. Mas é preciso ver o estado em que fica o pasto depois da passagem.

fonte: blog josias de souza 29.06.2007

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